Pai transmasculino relata transfobia por parte de hospital após dar à luz ao filho em SP
No dia 28 de abril, Vênuz Capel e sua esposa receberam a chegada de seu filho, Sol, com muita alegria. No entanto, desde o nascimento, a família tem enfrentado uma série de desafios, não apenas relacionados à saúde do bebê, que nasceu com cardiopatia e aguarda uma cirurgia para colocação de um marcapasso, mas também no que diz respeito ao tratamento no Hospital São Paulo, onde o bebê está internado. Vênuz, que é trans, relatou uma série de situações de transfobia e discriminação por parte da equipe hospitalar.
De acordo com Vênuz, a equipe do hospital tem mostrado resistência em aceitar e respeitar sua identidade de gênero, insistindo em se referir a ele como mulher. “Existem várias pessoas [no hospital] que têm dificuldade de se comunicar com a gente [ele e a esposa] porque eu sou trans. Um absurdo”, disse ao Terra NÓS. Além da questão do tratamento, Vênuz relatou que a equipe não tem feito o necessário para garantir a realização da cirurgia do bebê, que foi adiada várias vezes.
Sol nasceu prematuro, com 2,2 kg, o que complicou a realização da cirurgia de colocação do marcapasso, que requer um dispositivo especial devido ao tamanho reduzido do bebê. “A gente conversou com a equipe do neonatal e falou que queria uma reunião com a equipe de cirurgia cardíaca, que é quem iria operar e marcar a cirurgia, para ver se o material estava todo certo, porque no início da internação eles disseram que o marcapasso tinha que ser encomendado, por ser um marcapasso especial para o tamanho dele”, relembrou Vênuz. A cirurgia, marcada para o dia 25 de julho, ainda não tem garantia de que será realizada na data prevista, devido às frequentes mudanças na agenda do médico.
A situação se agrava com a falta de respeito pela identidade de Vênuz. “Já fui recebido na recepção com um ‘oi, mãezinhas’. Nas pulseiras que eles dão para os acompanhantes, eles colocam o meu nome e do lado colocam ‘mãe’, sendo que eu não sou a mãe do Sol. Eu já sou retificado [tem o nome retificado] e registrei o Sol enquanto pai. No começo da internação, eles até chegaram a falar que a minha esposa não poderia entrar, porque não tem como o Sol ter duas mães”.
Vênuz ainda relatou que, quando não estão por perto, técnicas de enfermagem fazem comentários transfóbicos. “A mãe de uma das crianças que está internada disse que, quando não estamos por perto, duas técnicas de enfermagem falaram que a nossa família não era normal”, contou. Apesar das várias reclamações à administração do hospital, a situação não melhorou. Vênuz conclui sua declaração enfatizando que “transfobia é crime”, e a experiência que ele e sua família estão vivendo é um exemplo alarmante da discriminação enfrentada por pessoas trans em instituições de saúde.