Alvo de transfobia na Olimpíada, boxeadora que fez pugilista italiana abandonar luta não é trans

Na manhã desta quinta-feira (01/08), as redes sociais foram inundadas por uma onda de desinformação e transfobia após a boxeadora italiana Angela Carini desistir de sua luta contra a argelina Imane Khelif aos 46 segundos do primeiro round. A luta, válida pela primeira rodada da categoria até 66 kg do boxe feminino na Olimpíada de Paris, foi seguida por uma série de boatos infundados.

Perfis de extrema direita começaram a espalhar duas mentiras simultâneas, alegando que Carini teria abandonado o combate por causa do gênero de sua adversária, que, segundo esses boatos, seria uma mulher transgênero. No entanto, Imane Khelif não é trans. Na verdade, ela se identifica como uma mulher intersexual, nascida com características biológicas de ambos os sexos e criada como menina. Na Argélia, seu país natal, os direitos LGBTQIA+ praticamente inexistem, e as cirurgias de mudança de sexo são proibidas por lei.

Apesar de ter níveis de testosterona mais altos que a média das mulheres cisgênero, não há evidências de que Khelif tenha uma vantagem competitiva sobre suas adversárias. Desmentindo rapidamente os boatos, Angela Carini esclareceu que desistiu da luta devido a dificuldades respiratórias após Khelif acertar seu nariz duas vezes, e não por um suposto protesto contra a orientação sexual da adversária. “Entrei no ringue e tentei lutar. Eu queria vencer. Recebi dois golpes no nariz e não conseguia mais respirar, estava doendo muito”, justificou a italiana.

Além de Imane Khelif, a taiwanesa Lin Yu-ting, outra mulher intersexual com níveis de testosterona mais altos, também recebeu autorização do Comitê Olímpico Internacional (COI) para competir no boxe feminino. Segundo uma resolução de 2021 do COI, “até que as evidências determinem o contrário, os atletas não devem ser considerados como tendo uma vantagem competitiva injusta ou desproporcional devido às suas variações de sexo”. Portanto, Imane Khelif competiu dentro das regras e venceu de forma justa, sem violar os princípios olímpicos.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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