Mulher cis é hostilizada e barrada em banheiro de academia por ser confundida com trans em Recife
Um caso revoltante de transfobia e machismo escancarado ganhou repercussão nesta segunda-feira (26/05), em Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A personal trainer Kely Moraes, mulher cis e fisiculturista, foi alvo de agressões verbais dentro da academia Selfit, onde trabalha, após ser confundida com uma mulher trans. Kely havia acabado de sair do banheiro feminino quando foi abordada por uma aluna, que a ofendeu dizendo que ela não deveria estar ali. A situação escalou quando um homem também entrou na discussão, bloqueando a entrada do local para impedir que Kely voltasse.
A personal relatou que, momentos antes da agressão, havia sofrido um acidente de moto e foi ao banheiro se limpar, pois estava com o pé sangrando. Na saída, foi surpreendida com a abordagem preconceituosa. “Ela disse que o banheiro de homem era lá embaixo. Disse ‘você é trans, mas é um homem’”, contou. Parte do episódio foi filmado e divulgado nas redes sociais. Nas imagens, é possível ver o agressor dizendo que havia um “banheiro inclusivo” no andar de baixo e tentando barrar Kely fisicamente. “Porque eu sou o quê?”, questiona ela no vídeo. “É inclusa, é inclusiva, lá embaixo”, responde o homem, visivelmente exaltado.
Abalada, Kely contou que já teve sua identidade de gênero questionada antes por conta do porte físico, mas nunca havia passado por algo tão violento. “Me senti ofendida, humilhada, ela gritava para todo mundo e as pessoas mandavam eu ficar calada. Eu que era a vítima ali.” Após a saída dos agressores, a academia acolheu a personal e a acompanhou até a Delegacia de Boa Viagem, onde um boletim de ocorrência foi registrado. A Polícia Civil classificou o caso como constrangimento ilegal, vias de fato e ameaça, e afirmou que investiga o caso.
Em nota enviada à imprensa, a academia Selfit declarou que “lamenta profundamente o episódio” e “repudia qualquer ato de preconceito ou violência”. Kely, por sua vez, afirmou que processará os envolvidos, mas revelou não ter esperanças de justiça plena. “O olhar, as palavras ofensivas, diminuem você a nada. Se eu fosse [trans], o que tem a ver? Por que isso ofende tanto? Eu estava só trabalhando, só queria ir no banheiro”, desabafou. Emocionada, ela completou: “Eu, sinceramente, estou envergonhada, não por ser comparada com uma mulher trans – o que, para mim, é um elogio, elas são lindas e têm suas histórias e suas guerras –, mas envergonhada pela situação.”
🚨VEJA: Casal confunde personal com trans em academia e tenta impedir a mulher de usar o banheiro feminino do local.
— CHOQUEI (@choquei) May 27, 2025
pic.twitter.com/E8eYpc1uU2