Pai de santo sofre ataque a tiros após sair de terreiro em SP: “Além de macumbeiro, é viado”
Um crime brutal com indícios de intolerância religiosa e homofobia acendeu o alerta da comunidade LGBTQIAPN+ e de religiões de matriz africana no último sábado (17/05), em Mauá, na Grande São Paulo. O pai de santo Leandro Teixeira dos Santos, conhecido como Leandro de Oyá, foi atingido por dois tiros nas pernas enquanto voltava de uma celebração religiosa em seu terreiro, no bairro Parque São Vicente. Vestido com trajes tradicionais do candomblé, ele foi surpreendido por ofensas e disparos de um homem identificado como Tiago Rodrigues da Silva, que, segundo testemunhas, disse: “Além de macumbeiro, é viado” antes de atirar à queima-roupa.
De acordo com o boletim de ocorrência, o agressor já seguia Leandro a certa distância e, em determinado momento, entrou em seu apartamento e voltou armado. O ataque aconteceu logo depois que Leandro passou por ele sem responder a um chamado. “Ele estava de branco, com as roupas do ritual, e disse que um cara apareceu e começou a chamá-lo, mas ele não atendeu. O cara falou ‘psiu’ e começaram a discutir. Foi quando o homem falou: ‘Além de macumbeiro é viado'”, disse o amigo da vítima, o babalorixá Sidnei Nogueira, ao UOL. Segundo ele, Leandro foi abordado de forma agressiva, e que a motivação do crime está diretamente ligada à identidade religiosa e sexual da vítima.
Tiago foi preso em flagrante e confessou o crime, tentando justificar o ataque ao dizer que teria sido “provocado” por Leandro. A polícia encontrou a arma usada na tentativa de homicídio escondida em uma lixeira no prédio do agressor. O caso foi registrado como lesão corporal, injúria com motivação discriminatória e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. A pistola foi apreendida e será periciada. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo confirmou que a investigação está sendo conduzida pelo 1º Distrito Policial de Mauá.
Leandro passou por cirurgia no Hospital Nardini e permanece internado em estado estável. Ainda sob forte abalo emocional, o pai de santo considera encerrar as atividades de seu terreiro. “Ele está assustado, não consegue falar direito. Disse que talvez feche o terreiro, tamanha a violência que sofreu. Ele só queria praticar sua fé e ser quem é”, lamentou Nogueira.