Cláudia Celeste: A travesti que brilhou em novela da Globo e enfrentou o preconceito no auge da ditadura

Muito antes das discussões sobre representatividade trans ganharem força na mídia, a atriz Cláudia Celeste já desbravava caminhos no cenário artístico brasileiro. Em 1977, ela fez história ao se tornar a primeira travesti a participar de uma novela da TV Globo. Intérprete da personagem Estrela na trama Espelho Mágico, de Daniel Filho, Cláudia teve sua trajetória interrompida de forma abrupta após um jornal revelar sua identidade de gênero. A repercussão negativa nos bastidores, aliada à censura moralista da época, culminou na sua suspensão da novela — mesmo com o talento inquestionável da atriz.

Natural do Rio de Janeiro, Cláudia iniciou sua carreira como bailarina aos 20 anos, dançando no famoso palco do Beco, casa noturna icônica da zona sul carioca. Ao longo da carreira, brilhou no teatro com peças como O Mundo é das Bonecas, no Teatro Rival, e encantou o público em boates e palcos por todo o país. Além disso, foi eleita Miss Brasil Pop, título que celebrou sua beleza e presença cênica, e participou de concursos de beleza e festivais artísticos que impulsionaram seu nome no cenário nacional.

No auge da repressão da Ditadura Militar, a artista enfrentou o preconceito institucional que já havia barrado nomes como Rogéria e Divina Valéria na televisão. Sem espaço para continuar trabalhando no Brasil, Cláudia seguiu para a Europa, onde pôde dar continuidade à sua carreira em ambientes mais acolhedores. Foi apenas com o fim do regime militar que ela retornou ao país, retomando seu espaço na TV com a novela Olho por Olho, da extinta TV Manchete, em 1987.

Cláudia Celeste faleceu em 2018, aos 66 anos, vítima de uma infecção pulmonar. Sua história, marcada por talento, coragem e enfrentamento ao preconceito, continua sendo inspiração para gerações de artistas trans e travestis. Seu nome segue como símbolo de resistência LGBTQIAPN+.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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