Damares Alves declara apoio a cotas para travestis, mas passado conservador levanta suspeitas
Conhecida por sua trajetória conservadora e por ter ocupado o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos durante o governo de Jair Bolsonaro — notório por políticas anti-LGBTQIAPN+ — a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) adotou um novo discurso que vem causando estranhamento. Em entrevista recente, a parlamentar declarou ser a favor de cotas sociais para pessoas trans, em especial travestis, alegando ter uma “identificação muito grande” com esse grupo.
“É muito fácil você conseguir um emprego para um gay, para uma lésbica, para um trisal. Mas a travesti, pelo jeito exuberante dela, você não encontra travesti num banco trabalhando”, afirmou. Apesar do tom aparentemente empático, a fala de Damares carrega estereótipos e reforça visões limitadas sobre as experiências das travestis no Brasil, além de soar contraditória diante de sua longa atuação política pautada por discursos contrários à chamada “ideologia de gênero”.
Durante o governo Bolsonaro, do qual fez parte, houve desmonte de políticas voltadas à população LGBTQIAPN+, como a retirada da temática de documentos oficiais e o enfraquecimento de canais de denúncia de violências contra esse grupo. Vale lembrar que, em 2019, o próprio governo interveio para barrar um vestibular específico para pessoas trans em uma universidade federal.
Tentando reescrever sua participação no governo anterior, Damares defendeu que a direita pode sim abraçar políticas afirmativas para pessoas trans. Segundo ela, durante seu governo, Bolsonaro teria lhe incumbido de “cuidar deste público” e teria até se emocionado ao ouvir dados sobre a população trans encarcerada. “Nós chegamos a arrancar lágrimas do Bolsonaro”, disse. Ainda assim, as ações concretas da gestão Bolsonaro apontam na direção oposta: da exclusão, do preconceito e da invisibilização.
A tentativa da senadora de se descolar da retórica extremista bolsonarista pode até soar como avanço para alguns, mas é recebida com ceticismo por quem acompanhou sua trajetória. As declarações não apagam o histórico de retrocessos enfrentados pela comunidade LGBTQIAPN+ sob sua gestão. Em tempos de revisão histórica e reconfiguração de discursos políticos, cabe perguntar: essa nova Damares representa uma mudança real ou apenas um reposicionamento estratégico?
A nova tendência dos bolsonaristas é abraçar a comunidade LGBTQIA+, olha aí a Damares defendendo as travestis e até pequeno porte de maconha, a era da "família tradicional" já era, fico imaginando a cabeça do gado agora, como fica ? pic.twitter.com/Je8y39RXUV
— ೃ✧ Ld ೃ✧🇧🇷🏴 (@Ld_Cml) July 29, 2025