Adolescente trans denuncia agressão e transfobia em casa de acolhimento no interior de São Paulo
Uma adolescente trans de 17 anos denunciou um caso grave de transfobia e agressões dentro do Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (Saica), em São Carlos (SP). O episódio, ocorrido na última segunda-feira (11/08), envolve um funcionário da chamada Casa de Acolhimento, cujo nome não foi divulgado. A jovem, que vive na instituição há oito anos, relatou que o educador a ameaçou e desrespeitou sua identidade de gênero, além de ter agredido ela e outro adolescente.
“O educador veio para cima de mim e dos demais acolhidos e começou a fazer ameaças. Ele falou que não ia dar nada bater em mim, porque eu sou homem”, afirmou à reportagem da EPTV, afiliada da TV Globo. Segundo a adolescente, a situação se agravou quando o funcionário teria ameaçado outro jovem no banheiro e, durante a discussão, deu um tapa no rosto dos dois. Ao tentar intervir, ela conta que teve a mão prensada na porta. Outro ponto destacado por ela é que uma funcionária também a trata apenas no pronome masculino, ignorando o fato de que ela se identifica como mulher.
A adolescente denuncia ainda a precariedade das condições do local, afirmando que faltam itens básicos de higiene e alimentação. “Está sem as coisas aqui, a gente não tem barbeador, a gente não tem produto de higiene, a gente não tem uma pasta de dente, a gente não tem nada aqui dentro, não tem alimentação direito”, disse. Os adolescentes que vivem no espaço afirmam que, no café da manhã, recebem apenas leite e bolacha, e chegaram a enviar imagens mostrando alimentos supostamente servidos queimados.
A denúncia, que expõe tanto episódios de violência quanto possíveis falhas no atendimento, mobilizou a Prefeitura de São Carlos, que afirma estar investigando o caso. A administração municipal, no entanto, nega que haja falta de produtos e alimentos, sustentando que o Conselho Tutelar esteve no local e não constatou a escassez. A prefeitura alega ainda que alguns jovens pedem marcas específicas, “o que não existe no poder público”.
Em nota oficial, a Prefeitura Municipal de São Carlos, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, disse que “adotou as providências necessárias para apuração dos fatos, em conjunto com o Conselho Tutelar e a gestão da instituição responsável pelo serviço”. O texto também afirma que “todas as medidas estão sendo tomadas para resguardar os direitos das crianças e adolescentes acolhidos, garantindo sua integridade física e emocional” e que não serão toleradas situações que atentem contra esses direitos. A investigação segue em andamento.


