Rapaz trans assume a paternidade das gêmeas da ex-namorada e emociona ao falar sobre Dia dos Pais
O Dia dos Pais deste domingo (10/08) terá um significado especial para Danillo Simões, 36 anos, morador de Santo André, na Grande São Paulo. Homem trans, ele assumiu com amor e responsabilidade a paternidade de Sophia e Isadora, filhas gêmeas de sua ex-namorada. Em entrevista ao repórter Marcos Zibordi, do portal Terra, Danillo contou que a gravidez aconteceu enquanto o casal estava separado e que o pai biológico não assumiu as crianças. Ao retomar o relacionamento, ele decidiu “bancar a paternidade” e hoje compartilha a guarda das meninas, que estão prestes a completar quatro anos.
Formado em informática e concluindo pós-graduação em Engenharia de Software na USP, Danillo lembra que se tornou pai antes da transição e que, aos 36 anos, já ultrapassou a média de vida de pessoas trans no Brasil, estimada em 35 anos segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). “Sempre quis”, afirma, relembrando que reafirmou a decisão de ser pai várias vezes — desde o momento em que descobriu, no ultrassom, que teria gêmeas, até a separação definitiva da mãe das crianças. Hoje, a guarda compartilhada garante a presença das filhas em finais de semana e datas importantes, como o próprio Dia dos Pais.
Este ano, Danillo celebrou a data com um passeio ao lado das meninas e da mãe delas, enfrentando os desafios de explicar questões práticas, como a rotina entre duas casas. “Daqui dez anos, vou contar que minhas filhas estão entendendo as nossas lutas, que são filhas de um homem trans que ajuda pessoas, que quitou seu apartamento, que tem independência financeira. Mas o processo de transição não termina nunca”, diz. Ele também se diverte ao contar que as semelhanças físicas com as gêmeas já renderam comentários: “Uma vez, no shopping, uma senhora falou que não tinha como não serem minhas filhas. Mal sabia ela que, biologicamente, não eram”.
Para Danillo, ser pai é descobrir o verdadeiro significado do amor. “Quando eu era mais novo, com todos os conflitos psicológicos, eu não amava a vida. Hoje, não; quero ver minhas filhas crescerem”, afirma. Ele também destaca a relação próxima que sua atual companheira tem com as meninas, e celebra o fato de este ser o primeiro Dia dos Pais em que elas compreendem melhor a data. No país que mais mata pessoas trans no mundo, o sentimento de proteção é constante: “Eu tenho que lutar para estar vivo para elas. É a coisa mais importante”, conclui. Antes de encerrar a entrevista, fez questão de reforçar: “Sempre quis ter gêmeas.”


