Morre Angela Ro Ro, pioneira da MPB e primeira grande artista a assumir-se lésbica no Brasil

Angela Ro Ro, um dos nomes mais marcantes da Música Popular Brasileira, morreu nesta segunda-feira (08/09), aos 75 anos, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca após complicações decorrentes de um procedimento cirúrgico. A cantora estava internada desde julho no Hospital Silvestre, no bairro do Cosme Velho, em razão de problemas respiratórios agravados por uma traqueostomia e uma infecção pulmonar. A morte foi confirmada por Laninha Braga, ex-namorada que vinha cuidando de Ro Ro nos últimos meses. Ícone de uma geração, a artista enfrentava fragilidades de saúde que dificultavam sua agenda de shows e, em busca de apoio, chegou a recorrer às redes sociais para pedir ajuda financeira a fãs e amigos.

Pioneira, Angela Ro Ro entrou para a história como a primeira artista de prestígio da MPB a assumir publicamente sua homossexualidade ainda nos anos 1970 — um gesto revolucionário em tempos de ditadura e repressão. “Sou uma lésbica diamante desde sempre”, declarou em entrevista à Folha em 2024. Essa franqueza, no entanto, custou caro: sofreu inúmeros episódios de homofobia, alguns violentos, como em 1984, quando foi brutalmente espancada. Ainda assim, jamais recuou. “Nunca me envolvi em política, nunca fui militante, mas, poxa vida, levei bastante cacetada por homofobia”, disse ao Gshow, em janeiro deste ano, após um de seus últimos shows no Teatro Rival, no Rio.

Sua vida pessoal também ganhou destaque na mídia, especialmente por relacionamentos intensos, como o conturbado namoro com Zizi Possi, que durou cerca de um ano e meio. O romance foi marcado por polêmicas e acusações que Ro Ro sempre negou, mas acabou virando notícia de capa nos jornais da época e inspirando a música “Escândalo”, de Caetano Veloso — título que batizou o terceiro LP da cantora, lançado em 1981. Longe de se esquivar das fofocas, Angela falava de sua fama de “pegadora” com humor: “É pura fama, não é proveito”, dizia em entrevistas, sempre com a ironia que lhe era característica.

Ao longo da carreira, Angela construiu um repertório que atravessou gerações, embalando fãs com sua voz grave, interpretações viscerais e composições que mesclavam intensidade, dor e lirismo. Orgulhosa de quem era, costumava afirmar: “Continuo gay, continuo homo, continuo lésbica, continuo mulher, continuo gostando de ser feminina, gostando de ser mulher, continuo assim do jeito que sempre fui”. Em breve, sua trajetória ganhará as telas no documentário Angela Ro Ro, dirigido por Liliane Mutti e já em fase de finalização. Um registro que promete eternizar a força, a ousadia e a autenticidade de uma artista que marcou para sempre a cultura brasileira e abriu caminhos para a comunidade LGBTQIA+.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

Você vai curtir!