ANTRA pede que o Pajubá seja reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) protocolou um pedido histórico para que o Pajubá seja reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O documento foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e ao Ministério da Cultura, propondo ações concretas de salvaguarda, como a criação de acervos, materiais educativos e dicionários comunitários oficialmente reconhecidos.
O pedido marca um momento de valorização de uma linguagem que, desde o século passado, atua como expressão cultural, instrumento de resistência e forma de pertencimento entre travestis e pessoas trans em todo o país.
Mais do que um conjunto de gírias, o Pajubá é uma linguagem social e afetiva, construída a partir da incorporação de palavras de origem iorubá e nagô às experiências urbanas e cotidianas da comunidade travesti. Surgido em um contexto de exclusão e perseguição — especialmente durante os anos da ditadura militar — o Pajubá se tornou uma ferramenta de proteção, cumplicidade e sobrevivência, além de um espaço simbólico de criação coletiva.
A importância dessa linguagem ultrapassa as ruas e chega à literatura e à política. Obras como Diálogo de Bonecas (1995), de Jovanna Baby, considerada a primeira publicação impressa no idioma, mostram como o Pajubá também é memória, arte e afirmação de identidade.
Para Bruna Benevides, presidenta da ANTRA, o reconhecimento do Pajubá como patrimônio cultural “é um gesto de reparação e de justiça, que afirma o direito à memória das travestis brasileiras”. Em suas palavras, o pedido busca “romper silêncios e epistemicídios, porque linguagem é poder, e cultura é identidade”.
O documento apresentado pela ANTRA propõe que o Estado brasileiro reconheça oficialmente uma das mais potentes contribuições da comunidade travesti e trans à cultura nacional, marcando um avanço histórico na luta por representatividade e pela preservação da memória de um povo que transformou a língua em abrigo, resistência e poesia.

