RJ: Marcha Trans & Travesti retorna à Lapa neste sábado com o tema “Independência, Não Morte”
A 4ª Marcha Trans & Travesti do Rio de Janeiro volta a ocupar os Arcos da Lapa no próximo dia 22 de novembro, a partir das 10h, com um recado direto e urgente: é hora de garantir vida digna para uma população historicamente deixada à própria sorte. Com o tema “Independência, Não Morte”, o ato reforça a resistência de travestis, mulheres e homens trans que seguem enfrentando o país que mais mata pessoas trans no mundo. A Marcha também cobra apoio real às organizações que lutam diariamente — e com pouquíssimos recursos — para mudar esse cenário brutal.
O eixo da “Independência” joga luz sobre um problema estrutural: a completa asfixia financeira das organizações trans no Brasil. A pesquisa “Cadê o Aqué?”, conduzida por Maria Clara Araújo dos Passos e divulgada em fevereiro, mostra que 100% das entidades consultadas não possuem recursos para se manter, com 70% operando orçamentos mínimos e apenas 6% conseguindo pagar equipes. Enquanto isso, o financiamento internacional de grupos anti-trans avança de forma agressiva. O relatório europeu The Next Wave revela que organizações anti-trans movimentaram US$ 1,18 bilhão entre 2019 e 2023 — uma disparidade que escancara a desigualdade na disputa por narrativas, direitos e sobrevivência.
Já o mote “Não Morte” responde aos dados devastadores do Dossiê da ANTRA sobre assassinatos e violências contra pessoas trans em 2024. A expectativa de vida dessa população permanece em apenas 35 anos, e a média de idade das vítimas de assassinato no último ano foi de 32. Onde há registro racial, 78% eram pessoas trans negras, majoritariamente jovens entre 18 e 29 anos. Para a coordenação da Marcha, liderada por Gab Van, não há mais espaço para políticas simbólicas: “prosperar precisa ser uma possibilidade concreta”, afirma. O adiamento do evento para novembro também foi um gesto político, para denunciar publicamente o subfinanciamento da pauta.
A programação do dia será marcada por serviços essenciais, acolhimento, cultura e celebração da resistência trans. A concentração começa às 10h, seguida de uma Feira de Empregabilidade às 11h — contraponto direto ao dado de que apenas 0,38% dos empregos formais são ocupados por pessoas trans. Ao longo do dia, o público terá acesso a ações como retificação de nome, vacinação, testagem de ISTs e orientações jurídicas. No palco, nomes como Angela Leclery, DJ Transtornado, Bront, Deusa MC, Tabita Infinito, Nayanzin MC, T Douglas, Ashiley e artistas da Ballroom fortalecem a Marcha com arte e presença política. O encerramento está previsto para as 20h.

