Claudia Leitte se compara a Madonna e Gaga ao relembrar show em Copacabana — números batem, valores não

Revisitar feitos grandiosos costuma ser um gesto comum entre artistas consagrados, especialmente quando o passado ajuda a reforçar a própria relevância no presente. Foi nesse tom que Claudia Leitte, durante uma entrevista coletiva no Festival da Virada de Salvador, evocou o show que realizou na Praia de Copacabana em 2008 e acabou se colocando, ainda que de forma descontraída, no mesmo imaginário ocupado por nomes como Madonna e Lady Gaga. Ao brincar com o apelido “Leitte Gaga”, a cantora reacendeu um debate que vai além de números e memória.

Não há como negar a dimensão histórica daquela apresentação. O show gratuito gravado para DVD transformou Copacabana em um mar humano e ultrapassou com folga a expectativa inicial da produção. Segundo a própria artista, a previsão era de 40 mil pessoas, mas o público teria chegado a 1 milhão. “A gente esperava 40 mil pessoas e chegou a 1 milhão”, afirmou Claudia, ao lembrar que a infraestrutura não estava preparada para tanta gente, citando problemas de segurança pública e a falta de banheiros suficientes para atender a multidão.

O desconforto, porém, surge quando a comparação deixa o campo dos feitos logísticos e passa a ocupar o terreno simbólico. Madonna e Lady Gaga são referências globais não apenas por apresentações históricas, mas por carreiras marcadas por posicionamentos claros em defesa da população LGBTQIAPN+, pelo enfrentamento direto do conservadorismo religioso e pela valorização da diversidade como parte central de suas obras.

É justamente nesse ponto que a fala de Claudia Leitte soa contraditória. Ao longo da carreira, a cantora acumulou declarações e polêmicas que a distanciam dos valores defendidos por essas artistas, especialmente no que diz respeito a sexualidade, religião e direitos de minorias. Reconhecer o impacto do show de Copacabana é legítimo. Se comparar a ícones que transformaram o pop em ferramenta política e cultural, no entanto, exige uma coerência que vai muito além de recordes de público.

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Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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