Envelhecimento com HIV avança no Brasil, mas etarismo e diagnóstico tardio seguem como entraves
O envelhecimento da população brasileira também vem se refletindo no perfil da epidemia de HIV, trazendo novos desafios para a saúde pública e para o cuidado das pessoas que vivem com o vírus. Dados recentes do Boletim Epidemiológico de HIV e Aids 2025 mostram que cresce a participação de pessoas com 50 anos ou mais entre os novos diagnósticos, especialmente entre mulheres. O fenômeno é resultado direto dos avanços no tratamento, que ampliaram a sobrevida, mas também escancara problemas estruturais históricos, como o diagnóstico tardio e a invisibilização da sexualidade na maturidade.
Envelhecer vivendo com HIV, no entanto, não é o mesmo que envelhecer sem o vírus. Pessoas nessa faixa etária enfrentam maior incidência de síndromes geriátricas precoces, como fragilidade, declínio cognitivo e depressão, além de conviverem com múltiplas comorbidades. Esse cenário é agravado pelo etarismo, que se soma à sorofobia, ao racismo e às desigualdades sociais, criando barreiras concretas no acesso ao cuidado e impactando diretamente a qualidade de vida dessa população.
Em 2024, o Brasil registrou mais de 39 mil novos diagnósticos de HIV, mantendo uma tendência de leve crescimento. Entre pessoas com mais de 50 anos, o diagnóstico costuma acontecer tardiamente, muitas vezes já na fase de aids, o que aumenta o risco de complicações, hospitalizações e mortalidade. A ideia equivocada de que pessoas mais velhas não têm vida sexual ativa ainda é um dos principais entraves para a prevenção, a testagem e o diálogo aberto nos serviços de saúde.
O envelhecimento da epidemia impõe a necessidade urgente de repensar políticas públicas e práticas de cuidado no SUS. Especialistas apontam que integrar infectologia, geriatria e saúde mental, além de atualizar campanhas de prevenção para dialogar com a população 50+, é fundamental para enfrentar o problema. Combater o estigma e o etarismo nos serviços de saúde também é essencial para garantir diagnóstico oportuno, cuidado contínuo e envelhecimento com dignidade para pessoas vivendo com HIV, especialmente dentro da população LGBTQIA+, historicamente mais vulnerabilizada.

