Ex-BBB João Luiz sofre racismo após criticar exposição de crianças vulneráveis como conteúdo nas redes
O ex-BBB e geógrafo João Luiz Pedrosa se tornou alvo de ataques racistas após usar as redes sociais para levantar um debate sensível e necessário sobre a superexposição de crianças em missões humanitárias protagonizadas por influenciadores digitais no continente africano. Na publicação, ele propôs uma reflexão ética sobre a forma como essas realidades vêm sendo mostradas ao público, especialmente quando envolvem crianças em situação de vulnerabilidade social.
Sem atacar nomes específicos, João questionou o uso recorrente de imagens que expõem o rosto e a intimidade dessas crianças como estratégia de engajamento. “Existem inúmeras maneiras de mostrar uma realidade sem expor o rosto das crianças. […] São alternativas mais éticas que focam no contexto social, e não na midiatização do sofrimento”, escreveu. Ele também criticou conteúdos que romantizam situações extremas: “Existem formas seguras de as crianças participarem dos vídeos e nenhuma delas é provando biscoito recheado e refrigerante pela primeira vez ou mostrando meninas comendo areia com sal”.
Outro ponto destacado pelo ex-BBB foi o protagonismo excessivo de quem realiza as doações ou viagens voluntárias, muitas vezes colocados como heróis da narrativa. “O [doador] se torna mais importante do que quem recebe. Essa narrativa de exposição em troca de ajuda centraliza o doador como herói. […] Mostre impacto sem expor indivíduos vulneráveis e sempre faça uma reflexão sobre o uso do ‘eu’”, afirmou. João também reforçou a importância de compreender a história e a geopolítica do continente africano antes de reproduzir estereótipos. “Se o Brasil ainda vive as mazelas herdadas do período colonial, imagine países africanos que têm independência de potências europeias recentes na linha histórica da geopolítica mundial.”
A repercussão do posicionamento, no entanto, revelou o racismo estrutural que ainda atravessa o debate público. João Luiz passou a receber uma série de mensagens ofensivas, que ele decidiu expor, sendo chamado de “lixo”, “macaco nojento” e “demônio”. O ataque ocorreu em meio à circulação recente de vídeos da influenciadora Nathalia Valente em Angola, onde ela aparece com crianças em situação de extrema pobreza, promovendo desafios, “dancinhas”, alimentos ultraprocessados e até sua própria marca de biquíni. Para João, sua fala não foi um ataque pessoal, mas um convite à responsabilidade, à ética e à reflexão sobre quem realmente se beneficia quando a miséria vira conteúdo.
— João Pedrosa (@joaoluizpedrosa) December 15, 2025

