RJ: Com elenco LGBTQ+, peça “Traças” expõe hipocrisias das famílias tradicionais

Desde 20 de novembro, o Mezanino do Sesc Copacabana vem sendo tomado pela intensidade teatral de “Traças”, novo espetáculo da companhia Troupp Pas D’argent. A produção, uma tragicomédia de humor ácido, mergulha na desconstrução das estruturas familiares tradicionais, revelando o que é mantido à sombra para sustentar discursos moralistas. Com um elenco formado exclusivamente por artistas LGBTQIA+, pretos e pardos, a obra já nasce como um contraponto político às narrativas hegemônicas que ainda insistem em definir quem pode ou não ocupar determinados espaços de criação.

Dirigida por Marcela Rodrigues, a história se desenvolve no subúrbio do Rio e gira em torno de um jantar entre duas famílias – os Machado e os Soares – que rapidamente sai do controle. No meio da comida, das conversas atravessadas e de lembranças mal resolvidas, emergem verdades capazes de desmontar fachadas cuidadosamente construídas. Nada ali é estático. A encenação, inspirada no cinema latino-americano, utiliza três planos simultâneos para dar forma a uma narrativa fragmentada, cheia de pulsação e movimento, construída sem heróis ou vilões. “Não vamos apresentar personagens bonzinhos e malvados. O que me interessa é fazer o público questionar suas próprias contradições”, resume a diretora.

A metáfora central do espetáculo dá nome à obra: as traças. Assim como o inseto corrói silenciosamente aquilo que encontra, os segredos de cada personagem funcionam como pequenas infiltrações que ameaçam o tecido familiar. Essa ideia se reflete até nos figurinos, que aparentam estar impecáveis à distância, mas revelam rasgos e buracos quando observados de perto. Segundo Rodrigues, “assim como as traças destroem silenciosamente por onde se infiltram, segredos escondidos podem gradualmente corroer o tecido familiar”, reforçando o tom provocativo que permeia toda a narrativa.

Mais que expor a decadência moral de um núcleo familiar, “Traças” propõe uma crítica direta à forma como a sociedade normaliza violências e contradições em nome da manutenção das aparências. “Traças fala sobre o que cada um de nós é capaz de fazer para manter as aparências, proteger o próprio conforto ou esconder o que nos envergonha”, diz a diretora, lembrando que o desconforto foi parte fundamental do processo criativo. Integrante da programação do Edital Sesc Pulsar, o espetáculo segue em cartaz até 14 de dezembro, sempre de quinta a domingo, reforçando o compromisso da companhia — há 19 anos — com a representatividade, a crítica social e o teatro físico que provoca, inquieta e transforma.

Serviço

Espetáculo: TRAÇAS
Local: Sesc Copacabana – Mezanino (R. Domingos Ferreira, 160 – Rio de Janeiro, RJ)
Data: 20 de novembro a 14 de dezembro de 2025
Horário: 20h30 (de quinta a domingo)
Ingressos: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia). Compre aqui!
Classificação: 16 anos

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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