Tabu do número 24 segue firme: 70% dos times da Série A evitam a camisa associada ao “veado”

O tabu em torno do número 24 continua evidenciando como o futebol brasileiro ainda enfrenta dificuldades para lidar com temas ligados à diversidade. Segundo levantamento do UOL, 70% dos times da Série A simplesmente não utilizam a camisa 24 em seus elencos. Entre os poucos que adotam o número nesta temporada, todos os seis atletas são goleiros: Aranha (Palmeiras), Fernando Costa (Bragantino), Gustavo Felix (Fluminense), Leo Linck (Botafogo), Anthoni (Internacional) e Thiago Beltrame (Grêmio). Destes, apenas o jogador do Botafogo atua como titular. Nos outros 14 clubes da elite nacional — incluindo Corinthians, Flamengo, São Paulo, Vasco e Cruzeiro — o 24 segue fora de campo.

A resistência histórica ao número, associado ao animal veado no jogo do bicho e alvo de interpretações pejorativas, já gerou controvérsias marcantes no futebol brasileiro. A mais conhecida ocorreu em 2021, quando a Seleção Brasileira foi a única da Copa América a não inscrever um camisa 24, mesmo tendo convocado 24 atletas. Na ocasião, a ausência motivou uma ação movida pelo Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT contra a CBF. A entidade se defendeu dizendo que o número 25 era mais “adequado” para um volante, mas o episódio expôs a persistência do preconceito velado dentro das estruturas do esporte.

Clubes também já protagonizaram episódios constrangedores envolvendo a numeração. No Corinthians, o meia Victor Cantillo, acostumado a vestir a 24 no Junior Barranquilla, foi anunciado com a camisa 8, em suposta homenagem ao ídolo Freddy Rincón. Durante a apresentação, o então diretor Duílio Monteiro Alves chegou a dizer: “24? Aqui não”. A declaração repercutiu negativamente, gerou pedido público de desculpas e, posteriormente, o jogador passou a usar o número em campo.

Para Claudio Nascimento, coordenador executivo do Grupo Arco-Íris, o tema revela o quanto ainda há a avançar no enfrentamento ao preconceito no futebol. Em entrevista ao UOL, ele afirmou: “Reconhecer e aceitar o 24 como um número qualquer mostra o quanto ainda temos de avançar no combate ao preconceito à comunidade LGBTQIA+ no futebol.” Ele lembra que a organização chegou a acionar a Justiça há três anos justamente para contestar essa rejeição. “Essa dificuldade evidencia que é necessário que o futebol e a Justiça desportiva debatam ações afirmativas frente ao preconceito”, reforça Claudio, destacando que a mudança cultural ainda caminha em passos lentos.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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