Transmaromba: coletivo de homens trans ocupa o Arpoador e outros pontos do Rio com treinos inclusivos

O encontro entre Kayodê Andrade, Paole Matas, Nathan Santos e Sayonan Souza na chamada “Academia dos Flintstones”, no Arpoador, começou como um treino casual em um domingo de manhã. Com o tempo, virou um ritual de cuidado coletivo, fortalecimento físico e troca afetiva. A história, publicada em reportagem do jornal O Globo, chama atenção por reunir homens trans que passaram a ocupar de forma constante um espaço público historicamente marcado pela exclusão de seus corpos. Entre séries de musculação e músicas que embalam o treino, o grupo encontrou ali mais do que condicionamento físico: encontrou pertencimento.

A vivência compartilhada deu origem ao Transmaromba, iniciativa voltada ao acolhimento e à segurança de pessoas trans na prática de exercícios físicos. Hoje, o projeto reúne cerca de 120 participantes e promove encontros em diferentes regiões do Rio de Janeiro. Idealizador do coletivo, o modelo e ator Kayodê Andrade relembra as violências vividas ao longo de sua trajetória esportiva, especialmente após a transição de gênero. “Entendi, ao longo do tempo, que corpos como o meu eram constantemente retirados de todos os espaços. E percebi que o Transmaromba me fortalecia”, afirmou em entrevista à publicação.

Além do impacto físico, o grupo também atua diretamente na relação dos participantes com a própria imagem e autoestima. O professor de matemática Paole Matas destaca como a experiência coletiva transformou sua vivência em espaços como a praia. “Torço para o verão chegar só para ficar sem camisa”, contou. Para outros integrantes, no entanto, a estação mais quente pode intensificar a disforia. O artista visual e cofundador do projeto, Sayonan Souza, explica que o calor impõe desafios adicionais a homens trans que ainda não realizaram a mastectomia. “O verão é terrível para quem não fez mastectomia e usa tape ou binder”, pontuou.

A reportagem também ressalta os benefícios psicológicos e políticos da iniciativa. Segundo o psiquiatra Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório Transdisciplinar do IPq-HCFMUSP, o exercício físico durante a transição contribui para uma relação mais positiva com o próprio corpo e melhora a saúde mental. Já no campo simbólico, ocupar espaços públicos funciona como um gesto de afirmação coletiva. “Quando um grupo como este ocupa um espaço público, funciona como um recado: nós existimos”, observa o pesquisador Ettore Stefani de Medeiros. Para Sayonan, a presença do Transmaromba é também sobre abrir caminhos: “Plantamos uma semente: quem nos vê descobre que existem masculinidades como as nossas”.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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