Após critícas, diretora Anna Muylaert rebate acusação de “transfake” em ‘Geni e o Zepelim’

A diretora Anna Muylaert, responsável pela adaptação cinematográfica da canção “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque, publicou um vídeo em seu Instagram na quarta-feira (16/04) justificando a escolha da atriz cisgênero Thainá Duarte para interpretar a travesti Geni. A decisão foi criticada por ativistas e integrantes da comunidade LGBTQIAPN+, que acusam a produção de praticar transfake — termo usado para denunciar a exclusão de pessoas trans em papéis que representam suas próprias vivências. A polêmica reacendeu a discussão sobre representatividade e apagamento no cinema brasileiro.

Em sua justificativa, Muylaert afirmou que a personagem poderia ter “várias leituras”, desde uma mulher trans até uma mãe solteira ou uma prostituta cisgênero na Amazônia — versão que acabou sendo escolhida para o filme. “A gente entendeu que essa poesia poderia ter várias interpretações, e que a gente poderia fazer essa versão amazônica cis com a atriz Thainá Duarte”, disse a diretora, citando inspirações como o livro Iracema e o filme Manas.

Ela também convidou o público a debater se, em 2025, a personagem Geni só poderia ser retratada como uma mulher trans, sugerindo que a produção está aberta a repensar a abordagem. “Diante da reação da comunidade trans, quero vir aqui abrir o debate e jogar a pergunta: essa letra do Chico, essa poesia, hoje, em 2025, só pode ser interpretada como a Geni, o mito Geni, só pode ser interpretada como um uma mulher trans?”, questionou. “Eu quero debater isso, porque se a sociedade, não apenas a comunidade trans, mas também todos os fãs do Chico e do conto do Guy de Maupassant, o Bola de Seda, se a gente computar que hoje me 2025 só pode interpretar a Geni como trans, a gente vai repensar o nosso filme”, avisou. 

Artistas como Liniker e Camila Pitanga se manifestaram contra a decisão. Liniker destacou que o próprio debate sobre a validade de uma atriz cis no papel já expõe a falta de oportunidades para pessoas trans no audiovisual. “Temos atrizes trans que poderiam dar vida a essa personagem icônica”, afirmou. Já Pitanga ressaltou que a escolha reforça o apagamento de mulheres trans, lembrando que personagens com esse protagonismo ainda são raros na indústria. O debate segue aberto, e a diretora promete reconsiderar a abordagem do filme diante das críticas.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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