Nova padronização das praias do Rio atinge tradicional barraca LGBTQ+: “Não somos só lona e número”
Um dos pontos de resistência e celebração LGBTQIAPN+ nas areias do Leme, na Zona Sul do Rio, a tradicional Barraca Ponto G se viu obrigada a abrir mão de seus símbolos mais emblemáticos: as cores do arco-íris e a bandeira que sempre tremulou no local. A mudança foi motivada pelo novo decreto municipal nº 56.160, que entrou em vigor neste domingo (01/06), impondo um “código de conduta” para praias cariocas. As regras, que se aplicam a banhistas, comerciantes e barraqueiros, vetam o uso de bandeiras, marcas comerciais e qualquer estrutura de grande porte sem autorização da Prefeitura.
Além da proibição das bandeiras, o decreto também impõe que as barracas utilizem apenas o nome do responsável como identificação, respeitando padrões visuais estabelecidos. Em caso de descumprimento, as punições vão de multas de até R$ 2 mil à cassação da licença de funcionamento. A fiscalização ficará a cargo da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), com apoio da Guarda Municipal. A medida, que visa a “padronização estética” das barracas, já está sendo alvo de críticas por seu impacto direto em espaços simbólicos como o Ponto G, que há anos é referência para o público LGBTQIAPN+.
Em vídeo emocionado publicado nas redes sociais, o barraqueiro Luiz Henrique Guilherme lamentou a imposição da nova regra. “Querem tirar nossa cor. Mas a cor não sai de quem nasceu para ser visto. Não somos só lona e número. Somos memória viva na beira do mar”, afirmou. A publicação reforça que a identidade do Ponto G vai além da estética: “Chamam de regra o que, na verdade, é medo. Medo do que representa. Ponto G é mais que nome: é presença que ninguém apaga”.
Apesar da mudança visual, Luiz reforçou que o atendimento acolhedor e a energia única continuam intactos. “Infelizmente não podemos botar nossas cores, seguindo o regulamento da Prefeitura. Mas nós estamos aqui… o que mudou é não termos mais cores e a nossa bandeira, que é nossa marca registrada”, continuou o barraqueiro. E encerra com o convite que ecoa resistência: “A barraca é a mesma e estamos aqui para atender vocês. Aguardamos vocês”.