Evento católico no Ceará compara homossexualidade a doenças e é denunciado ao MP

A Associação Cearense de Diversidade e Inclusão (Acedi) denunciou um episódio de LGBTfobia ocorrido durante um evento religioso no município de Juazeiro do Norte, na região do Cariri cearense. No dia 5 de agosto, durante o encerramento do Cerco de Jericó — encontro promovido pela Comunidade Católica Filhos Amados do Céu (FAC) —, a homossexualidade e a lesbianidade foram citadas como se fossem doenças, ao lado de termos como câncer, depressão e dependência química.

A fala ocorreu durante a “oração de quebra muralhas” e foi transmitida ao vivo nas redes sociais. Uma das assistentes do sacerdote declarou: “Jesus, quebre todas as muralhas de doenças, sejam elas quais forem, principalmente o câncer, depressão, dependência do álcool, drogas, prostituição, homossexualismo, lesbianismo…”. A Acedi considerou o episódio discriminatório e encaminhou uma notícia de fato (uma espécie de denúncia) ao Ministério Público do Ceará (MPCE), repudiando o discurso.

“O denunciado proferiu declarações abertamente discriminatórias contra pessoas LGBTQIA+, comparando a homossexualidade a uma ‘doença’. Tais falas, travestidas de discurso religioso, extrapolam a liberdade de crença e configuram incitação ao ódio, reforçando estigmas históricos contra pessoas LGBTQIA+, podendo incitar práticas de exclusão, preconceito e violência”, afirmou o grupo no documento. A associação solicitou que o MPCE investigue o caso, identifique os envolvidos e instaure um inquérito policial para responsabilização criminal.

Desde a década de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar orientações sexuais que não sejam a heterossexualidade como transtornos. Por isso, termos como “homossexualismo” e “lesbianismo” caíram em desuso, já que o sufixo -ismo é historicamente associado a doenças no campo da saúde. As expressões corretas — e respeitosas — são “homossexualidade” e “lesbianidade”.

Em nota, o Ministério Público do Ceará confirmou que recebeu a denúncia e informou que ela será distribuída a uma promotoria para análise e adoção das medidas cabíveis. A Comunidade Católica Filhos Amados do Céu, por sua vez, também divulgou um posicionamento, pedindo desculpas pelo ocorrido. Segundo o grupo, a oração ministrada naquele dia seria uma versão antiga, recortada de outras fontes “aparentemente confiáveis”. A FAC se comprometeu a retirar o trecho ofensivo de futuras edições do encontro e a não utilizá-lo novamente.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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