Travesti bolsonarista, Michelly Summer participa de ato na Paulista e se diz vítima de “falta de empatia” de LGBTs
Marcando presença no ato pró-Bolsonaro realizado neste domingo (03/08) na Avenida Paulista, em São Paulo, a travesti Michelly Summer voltou a declarar publicamente apoio ao ex-presidente que promoveu ataques sistemáticos à população LGBTQIAPN+ durante seus quatro anos de governo. O evento, que reuniu cerca de 37,6 mil pessoas segundo estimativa da USP, contou com Michelly gravando vídeos ao lado de amigos gays que, segundo ela, também bolsonaristas.
“Persona non grata” entre boa parte da comunidade desde as eleições de 2022, Michelly causou indignação ao afirmar que Lula “liberaria as drogas e o aborto” e dizer que se informava por canais bolsonaristas. Em recente entrevista ao podcast “Superação sem Filtro”, no dia 19 de julho, a artista se queixou da rejeição que enfrentou após seu posicionamento político. “Eu perdi tudo. Foi uma completa falta de empatia”, afirmou, ignorando que seu apoio a um projeto político anti-LGBTQIA+ possa ter soado como traição para quem luta diariamente por direitos e visibilidade.
Michelly relatou ainda ter recebido ameaças, boicotes à sua loja de roupas voltada ao público LGBTQ+ e cancelamentos em sua agenda de shows, o que a levou a encerrar seu negócio na Bela Vista, região central de São Paulo. A artista relatou que, às vésperas de fechar as portas, recebeu ajuda financeira de Nany People, que pagou seus boletos atrasados. Mesmo com esse gesto de solidariedade, Michelly voltou a se queixar do silêncio de colegas da cena noturna, dizendo que muitas preferiram apagar registros com ela ou evitar serem vistas a seu lado.
Durante a entrevista, a travesti bolsonarista reforçou seu alinhamento à direita com um discurso moralista: “Tenho como base princípios e valores éticos e morais”. A contradição de sua trajetória — de artista da cena LGBTQIAPN+ a apoiadora de uma pauta política que fragiliza a própria comunidade da qual faz parte — segue gerando indignação. Afinal, até que ponto é possível exigir acolhimento e empatia de um grupo social que foi alvo justamente da ideologia que ela escolheu defender?