Carta trans pioneira na Tailândia aponta caminho de cuidado e dignidade que o Brasil ainda ignora
A Tailândia está prestes a dar um passo histórico na promoção dos direitos trans. Em 31 de março de 2026 — no Dia Internacional da Visibilidade Trans — será apresentada a “Trans Wellbeing Charter”, a primeira legislação abrangente voltada ao bem-estar da população trans no país. Desenvolvida em parceria com o National Health Commission Office, a carta pretende ampliar o acesso à terapia hormonal, promover políticas inclusivas em instituições públicas e privadas e aprimorar a formação médica para garantir um atendimento mais humano e qualificado.
Essa iniciativa surge em meio a uma mobilização internacional crescente em defesa das pessoas trans, refletida por campanhas como “Protect the Dolls” (“proteja as bonecas”), expressão símbolo de solidariedade e denúncia da violência contra mulheres trans. A carta tailandesa representa não apenas um avanço institucional — mas uma resposta concreta à necessidade de políticas públicas efetivas para a comunidade trans.
Enquanto isso, no Brasil, o cenário exige urgência. O país figura como o que mais mata pessoas trans no mundo. De acordo com a ANTRA, em 2024 foram assassinadas 122 pessoas trans e travestis, uma redução de 16% em relação a 2023, quando foram registradas 145 mortes. Mesmo com essa queda, o número permanece praticamente no mesmo patamar da média anual de 125 casos — o que mostra que a situação continua gravíssima. Já o Grupo Gay da Bahia publicou que o Brasil registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+ em 2024, sendo 273 homicídios e 18 suicídios — um aumento de 8,83% sobre 2023 (257 casos). Esses dados reforçam que o país segue entre os que mais vitimizam a população trans e travesti.
Diante disso, uma carta de bem-estar como a da Tailândia faria um papel fundamental no Brasil: padronizando o atendimento no sistema público de saúde para garantir acesso digno e humanizado à hormonização, às cirurgias de afirmação de gênero e ao suporte psicológico; criando metas e indicadores nacionais para monitorar o bem-estar da população trans em áreas como saúde, educação, mercado de trabalho e segurança; e formando profissionais com perspectiva de gênero e diversidade, de modo a transformar o atendimento de exceção em padrão de qualidade. Mais do que isso, uma política desse tipo reafirmaria que a pauta trans não é apenas uma questão de assistência, mas de direitos humanos, justiça social e cidadania plena.
Com a Tailândia assumindo esse protagonismo, fica o convite ao Brasil: que o país também possa transformar o respeito e a igualdade em políticas concretas, para que a vivência trans e travesti seja cada vez mais assegurada nos nossos espaços democráticos.

