Cientista político chama arte drag de “blackface de mulher” e gera reação de drags e ativistas
Um post do cientista político Sávio S. de Oliveira no X (antigo Twitter) acendeu um debate intenso sobre o papel e o significado da arte drag. No texto, ele afirmou que “drag queen é ‘blackface’, só que com mulher”, argumentando que, quando o feminino vira fantasia, o que se celebra “não são mulheres, mas a ideia caricata que fizeram delas”.
O termo blackface faz referência a uma prática racista do século XIX, em que atores brancos escureciam o rosto para interpretar personagens negros de forma estereotipada e ofensiva. Ao comparar essa representação com a performance drag, Sávio sugeriu que transformar elementos femininos em espetáculo reforçaria estereótipos de gênero em vez de rompê-los. “É o patriarcado de glitter”, resumiu o pesquisador.
A publicação rapidamente se espalhou e dividiu opiniões. Enquanto alguns viram no argumento uma provocação legítima sobre gênero e representação, a maior parte das reações veio de artistas drag e ativistas LGBTQIA+, que criticaram a comparação e defenderam a complexidade e a potência da performance drag.
Uma das respostas mais completas veio da drag queen Dacota Monteiro, que rebateu ponto a ponto a tese. “Nem toda drag é caricata (e nem toda caricatura drag é sobre caricaturizar feminilidade)”, escreveu. Dacota destacou que a arte drag não se limita a homens performando como mulheres: “Mulheres cis, mulheres trans e pessoas não binárias também fazem drag. E nem toda drag se monta de mulher — existem drags andróginas, drag kings, drag monsters, club kids”.
Para ela, a drag nasceu como uma forma de libertação dos papéis de gênero impostos às pessoas LGBTQIA+. “Homens se montam pra se livrar da masculinidade tóxica; mulheres cis se montam pra tomar de volta a feminilidade; pessoas trans se montam pra desconstruir e reconstruir a própria identidade de gênero”, explicou. Apesar de reconhecer que podem existir expressões misóginas em qualquer forma de arte, Dacota classificou a comparação feita por Sávio como “desonesta, LGBTfóbica e uma apropriação indevida de pautas antirracistas para sustentar um discurso conservador”.
Outras vozes do movimento também se manifestaram. A drag Aimée Lumière reagiu com ironia e indignação: “Você é imbecil, é seu abestalhado? Quem guenta?”. Já a ativista trans Lana de Holanda questionou o contexto político do ataque: “Os gays anti-trans agora também são anti-drag?”.
Entre respostas didáticas, críticas afiadas e ironias, o debate deixou evidente que a arte drag segue sendo um campo de disputa simbólica — ora vista como caricatura, ora como ferramenta de libertação. No meio da polêmica, o que se reafirma é a potência política do salto, da peruca e da performance como linguagens de resistência, identidade e expressão queer.

1 – nem toda drag é caricata (e nem toda caricatisse drag é sobre caricaturizar faminilidade)
— DaCota Monteiro (@ADaCotaMonteiro) November 4, 2025
2 – não são apenas homens que se montam, mulheres cis, mulheres trans, pessoas NB também fazem drag
3 – nem toda drag se monta de mulher, existem drags androginas, drag monsters, drag… https://t.co/OM0xjRXe9v
Os teatros minstreis definiram a forma como pessoas negras sao representadas na midia ATE OS DIAS DE HOJE, o poder que os brancos tem sobre a narrativa em cima de corpos negros é algo que é visível ate hoje na forma que se produz e consome midia
— DaCota Monteiro (@ADaCotaMonteiro) November 4, 2025
Pessoas quer NAO TEM PODER SOBRE…

