Pai conta trajetória de aceitação de filha trans de 6 anos: “Não queria filho veado”

Lutador e criado em uma família mega tradicional, Anderson de Almeida, de 43 anos, precisou mudar completamente sua forma de pensar ao descobrir que seu filho havia nascido no corpo errado. Em entrevista ao o UOL, ele contou detalhes da sua relação com uma filha transgênero.

Aos 2 anos de idade seu filho Murilo, que hoje se chama Carol e já tem 6 anos, mostrou os primeiros sinais de que gostava do universo feminino. O pai revela que chegou a passar por comentos de revolta e vergonha com a filha. “Eu não queria ter filho ‘veado’ em casa. Só depois eu aprendi que identidade de gênero não tem nada a ver com orientação sexual. E que transgênero é a pessoa que não se identifica com o sexo e com corpo em que nasceu”, conta.

Murilo conta que, quando a filha tinha 3 anos, ela chegava a se esconder para não ter que apanhar do pai. “Ele corria e se escondia com medo. Eu me arrependo e me emociono, porque sei que fui um pai mau para ele. Eu tratava bem os meus outros dois filhos”, completa. Com raiva, ele ainda forçava Carol a brincar com carrinhos, em vão.

Ainda na entrevista, Murilo conta que ao obrigar a filha a ser o que ela não queria, ela acabou se tornando uma criança agressiva. “Não falava com ninguém, batia em todo mundo, xingava e cuspia. Cheguei a pensar que ela tinha alguma doença, busquei ajuda na religião. Alguns familiares me falaram que ela tinha um espírito obsessor, outros me orientaram a levá-la na igreja para tirar o demônio do corpo dela”, relata.

Transição

Foi apenas após assistir uma reportagem na TV sobre um grupo de atendimento a crianças trans do Hospital das Clínicas, que a mãe da criança decidiu levá-la em uma consulta. “Nós fizemos um trato. Em casa, ela poderia se vestir de menina, fora, ela deveria ser o Murilo. Com o tempo, a Carol foi lutando para ser o que ela queria. Um dia, ao colocá-la para dormir, ela disse: ‘Papai, eu quero acordar menina, quero ser princesa, não aguento mais ser desse jeito’.Eu chorei e pedi desculpas a ela e à minha esposa, que sempre foi uma supermãe”, conta.

Em julho de 2016, a Carol assumiu o gênero feminino. Compramos vestidos, saias, blusas sandálias. Ela deixou o cabelo crescer, passou a se maquiar e a pintar as unhas. “Hoje, aos 6 anos, a Carol é uma menina maravilhosa e uma criança espontânea, carismática, alegre e mais feliz”, finaliza Almeida.

Felipe Sousa

Felipe é redator do Pheeno! Focado em explorar cada vez mais a comunicação em tempos de redes sociais, o carioca de 25 anos divide seu tempo entre o trabalho e a faculdade de jornalismo, sempre deixando espaço para o melhor da noite carioca!

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