Conheça Natha Sympson, artista trans que vem quebrando preconceitos no pagode baiano

A artista trans Natha Sympson, também conhecida como ‘a ninfeta mais quente de Salvador’, aposta no pagode baiano para quebrar tabus e preconceitos.

Natha Sympson é uma mulher trans sonhadora e destemida que, mesmo com todas as dificuldades encontradas ao longo de seu caminho, não desiste dos seus sonhos e nem abaixa a cabeça para o preconceito. É importante lembrar que, infelizmente, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo.

Estudante da faculdade de Belas Artes da UFBA (Universidade Federal da Bahia), a soteropolitana de 21 anos começou sua carreira como cantora há dois anos, quando fazia uma dupla de pop com sua amiga Roberta Santys. A dupla chegou a lançar dois clipes: ‘Vou Sarrar’ (2018) e ‘Perigosa’ (2019).

Este ano, seguindo carreira solo, a cantora decidiu investir no pagode baiano, um gênero musical majoritariamente composto por homens e algumas músicas machistas, o qual trata a mulher como objeto e usa pessoas LGBTs, principalmente gays, como piada.

Em janeiro ela lançou sua primeira música solo, ‘Gozou Rápido’, na qual ela faz uma crítica aos homens machistas que colocam sua virilidade em primeiro lugar. No dia 10/04 foi a vez da faixa ‘Eu Tô Sentando em Outro’, questionando a relação dos homens cis héteros que sentem desejo por mulheres trans e não assumem.

Foi aos 16 anos que Natha começou a se montar e foi através da arte drag que ela encontrou forças pra assumir sua identidade de gênero, até então tinha muito medo do preconceito o qual poderia vir a sofrer.

Desde quando começou a se montar, a artista logo se familiarizou com performances e apresentações de dublagem. Em 2017, participou de um concurso drag no programa ‘Universo’, da TV Aratu, afiliada baiana do SBT. Estrelou a peça ‘Gregorianas’, que ficou um mês em cartaz no Teatro SESI Rio Vermelho, em 2019.

Ainda em 2017 uma de suas performances virou caso de polícia. Natha foi convidada por uma de suas ex-professora do ensino médio para se apresentar em um projeto sobre sexualidade e identidade de gêneros no Colégio Estadual Odorico Tavares, no Corredor da Vitória (área nobre de Salvador). O evento também contou com palestras, debates, apresentações de dança e de bandas (uma delas foi a TransBatucada), todas relacionadas ao tema central do projeto.

O vídeo desta performance rapidamente começou a circular chegando até os pais dos alunos, muitos não gostaram do que assistiram. Foi então que o deputado estadual Samuel Júnior (PSC) pediu para que o Ministério Público da Bahia (MP-BA) apurasse a performance.

“É o preconceito, mascarado de preocupação, estão se doendo, porque era uma drag queen, numa escola, se apresentando. Eu poderia até estar de burca que eles iam falar da mesma forma. Como se o projeto todo só fosse visado na minha apresentação, naquele exato momento, mas não foi assim, foi um projeto grande, com várias apresentações e várias pessoas incluídas naquele projeto” comentou a artista.

Segundo o deputado, a performance de Natha “configurou claramente apologia ao sexo, corrupção de menores e atentado ao pudor”. Felizmente a artista nunca recebeu nenhuma notificação oficial sobre esta acusação.

Conversamos com Natha para conhecer um pouco mais sobre sua vida e sua arte. Confira como foi nosso bate papo:

Como a arte drag influenciou sua vida?
Comecei fazendo drag queen, a Natha Sympson era apenas um personagem que eu tinha inventado para mostrar esse meu lado feminino que tanto pedia pra sair, foi graças a arte drag que superei bullying, depressão, crise existencial, pensamentos suicidas e onde fui me descobrindo e me aceitando como mulher trans.

O que te impedia de se entender como mulher trans?
Eu tinha uma luta muito interna por me assumir trans, medo da reação das pessoas, medo do preconceito dentro da própria família, medo de sofrer preconceito entre os amigos e foi assim que aconteceu. Eu já sofria muito preconceito antes de me assumir.

O que te fez mudar do pop para o pagode baiano?
Por que não invadir um espaço que até então era super machista, preconceituoso, onde músicas só objetificam mulheres e fazem piadas com gays e trans? Por que não ter uma trans cantando pagode, passando sua mensagem através das suas letras?

Como é ser uma artista trans cantando um gênero musical pejorativamente machista?
É importante ter artistas trans nesses espaços majoritariamente masculino. Nas minhas músicas uso o bordão “é a ninfeta mais quente de Salvador invadindo os paredões” porque se eu não invadir esse espaço e mostrar que eu sou capaz, eu nunca entraria. É um movimento novo, estamos fazendo um novo pagode, o pagode LGBT+, que vai valorizar a mulher, o gay, a travesti, vai dar voz para elas. Daqui a uns anos vai se tornar um movimento gigantesco, quem sabe até a nova Tropicália do pagode baiano.

Como você lida com o preconceito?
O que me dói mais é o preconceito dentro da própria família, isso que torna as coisas mais difíceis. Tenho muitos sonhos, muita coisa pra realizar, mas se eu tivesse esse apoio da família, na minha arte, no que eu sou, tudo seria mais fácil! Eu poderia sofrer lá fora, apanhar tanto todos os dias, mas eu ia chegar em casa e ia saber que teria um apoio da minha família psicológico, moral e a dor ia ficar mais suave.

Qual mensagem você gostaria de deixar pra quem estiver lendo esta matéria?
Mesmo que as pessoas digam que você não vai chegar lá, que você não vai conseguir, seja forte e determinada e não desista nunca dos seus sonhos e objetivos. Se a vida te der um limão, faça uma limonada!

Vino

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Arquiteto, DJ, VJ, Produtor de Eventos e redator colaborador de conteúdos sobre diversidade LGBTI+ do portal Pheeno.com.br! #MandaAssunto

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