Madonna no Rio: Internauta resgata texto icônico de Caio F. Abreu sobre a 1ª vinda da cantora ao Brasil

A primeira vez que Madonna esteve no Brasil para cantar aconteceu em 3 de novembro de 1993, em São Paulo. A primeira vinda da Rainha do Pop em solo brasileiro foi durante a turnê “The Girlie Show”, que também teve outra apresentação no Rio de Janeiro três dias depois. O show teve exatas duas horas de duração e contou com um público de 88 mil pessoas, o maior da turnê da artista até aquele momento.

Para quem esteve lá, pessoalmente, o que ficou na lembrança foi o quanto Madonna estava feliz no palco. Esse foi o caso de Caio Fernando Abreu, um dos maiores jornalistas, escritores e poeta do Brasil, morto em 1996 por complicações envolvendo HIV. Mesmo não sendo um dos maiores admiradores da Rainha do Pop, Caio marcou presença no show de São Paulo após convite de um amigo, mudando completamente sua percepção a respeito da cantora. Prova disso é um texto feito pelo próprio jornalista e compartilhado em sua coluna para o jornal O Estado de S. Paulo, em 14 de Novembro daquele ano.

No texto, regatado por internautas 30 após sua publicação, Caio é enfático ao afirmar que Madonna representa tudo aqui­lo que todos nós gostaríamos de ser e ter: o prazer sem culpa. “Acho que uma figura assim não existiria em tempos e espaços sem o vírus da aids, que bloqueou a prática sexual e incendiou todas as formas imaginárias e indiretas da sexualidade”, destaca ele. “Madonna faz no palco tudo aquilo que as pessoas (as saudáveis) fazem na cabeça. Exemplo — um crioulo fortíssimo, com sotaque baiano, vendendo cerveja na fila, gritava o que todo mundo sentia: ‘Minha gente, quero ser que nem a Madon­na para dar mais que chuchu na cerca!'”.

Apesar do clima de celebração no ar, Caio não deixou de observar entre o público atitudes sintomáticas da era da AIDS. “No palco (fantasia) pode, no real (vida) não. A drag queen montadéssima foi atacada aos gritos de ‘bicha!louca! piranha!’. Tudo na maior agressividade. Mas, durante as duas horas da realidade fantástica instaurada pelo show, há respeito no ar”, pontua ele.

Caio finaliza o texto afirmando que a cantora “fez um enorme bem ao astral do Brasil”. “Parece que gostou de nós, e a gente precisa tanto, especialmente o Rio de Janeiro”, diz o escritor. E ele não poderia estar mais certo, já que a Madonna escolheu a Cidade Maravilhosa para o encerramento da sua turnê comemorativa dos seus 40 anos carreira. “No meio de dias estranhos, pesados, Madonna deixou no ar um sopro de vitalidade. Saúde, alegria, tesão. Com ou sem vírus e crise, Madonna dá vontade dessa coisa sagrada: viver”, completa o jornalista.

“Por isso mesmo, Deus a abençoe. E pouco importa se Ele não existe, porque ela também não existe. Existem símbolos. São eles que mobilizam e, mesmo quando não bastam, são necessários. Melhor ainda se forem belos. E, repito, do bem. Do lado certo da luz, compreende?”, finaliza Caio F. Abreu. Ainda bem que nós escolhemos o lado certo, não é mesmo?

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Felipe Sousa

Felipe é redator do Pheeno! Focado em explorar cada vez mais a comunicação em tempos de redes sociais, o carioca de 25 anos divide seu tempo entre o trabalho e a faculdade de jornalismo, sempre deixando espaço para o melhor da noite carioca!

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