Cena resgatada de programa de TV expõe triste retrato da homofobia no Brasil nos anos 1990

Internautas resgataram uma cena chocante e emblemática da homofobia nos anos 1990, exibida em rede nacional no programa da “Márcia”, apresentado por Márcia Goldschmidt. O vídeo, que viralizou no X (antigo Twitter), mostra o adolescente Rogério desabafando sobre o bullying homofóbico que sofria na escola. Com uma linguagem popular e repleta de conflitos, o programa trazia temas polêmicos, mas a cena em questão revela o quanto a LGBTfobia era naturalizada e até mesmo motivo de risos na época. Rogério, visivelmente constrangido, relata os ataques que sofria, como colocar papéis ofensivos em suas costas e chamá-lo de “Vera Verão”, enquanto parte da plateia ri da situação.

A situação se agrava quando os agressores de Rogério, Fred e Santiago, são chamados ao palco. Um deles justifica o bullying dizendo que “não gosta do jeito” do colega, citando sua forma de andar e falar como motivos para o preconceito. Rogério, então, responde com firmeza: “Mas esse é meu jeito de ser”, recebendo apoio da plateia e da apresentadora. Apesar disso, a cena evidencia a falta de empatia e a crueldade com que a homofobia era tratada, mesmo em um programa de grande alcance nacional. A mãe de um dos agressores tenta amenizar a situação, mas reforça estereótipos ao dizer que Rogério “cuida da casa como se fosse uma mulher”, como se isso justificasse o comportamento dos agressores.

Márcia Goldschmidt, por sua vez, questiona o preconceito de forma incisiva: “E se ele for homossexual? E daí? Ele não é gente?”. A fala da apresentadora, ainda que progressista para a época, não é suficiente para mudar o clima de constrangimento e dor vivido por Rogério. O adolescente, emocionado, desabafa: “Eu me sinto muito deprimido, às vezes até choro. Eu gostaria que eles parassem com isso, isso me magoa muito”. Suas palavras ecoam como um retrato triste de uma geração que sofreu calada, sem o apoio necessário para enfrentar a LGBTfobia.

A cena, que vem repercutindo intensamente nas redes sociais, levanta reflexões sobre o quanto avançamos – ou não – no combate ao preconceito. Internautas se solidarizaram com Rogério, questionando como ele está hoje e lamentando que situações como essa ainda sejam uma realidade para muitas pessoas LGBTQIAPN+. “Fica mais que evidente como não existe um porquê de haver tal preconceito”, comentou um usuário, destacando a irracionalidade da discriminação. A viralização do vídeo serve como um lembrete doloroso, mas necessário, de que a luta contra a homofobia ainda é urgente, mesmo décadas depois.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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