Governo Trump altera gênero de Erika Hilton em visto, e deputada promete acionar a ONU
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) denunciou, nesta quarta-feira (16/04), que seu novo visto para os Estados Unidos a identificou com o gênero masculino, apesar de seus documentos brasileiros oficiais constarem seu nome e gênero femininos. A parlamentar trans afirmou que o ocorrido é resultado das políticas do governo do presidente americano Donald Trump e classificou o caso como transfobia institucional.
Hilton destacou que um visto anterior, emitido em 2023 durante o governo Biden, respeitava sua identidade de gênero, mas a nova autorização, solicitada para sua participação na Brazil Conference em Harvard e no MIT, foi alterada sem justificativa. Indignada, a deputada anunciou que acionará as Nações Unidas e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) contra a medida. “Não me surpreende. Isso já está acontecendo com documentos de pessoas trans nos EUA há semanas”, escreveu no X (antigo Twitter). Ela ressaltou que todos os seus registros civis no Brasil estão retificados, incluindo a certidão de nascimento, e questionou a interferência do governo americano em documentos oficiais de outros países. “Eles ignoram nossa soberania para investigar se alguém já teve um registro diferente”, criticou.
Hilton decidiu cancelar a viagem em repúdio à situação e alertou para o perigo de governos alterarem documentos conforme “a narrativa de retirada de direitos do presidente da vez”. “Isso não vai parar nas pessoas trans. A lista de alvos é imensa”, afirmou, relacionando o episódio a uma “agenda política de ódio global”. Sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, a deputada fez um paralelo com a extrema-direita brasileira e declarou: “Já derrotamos essa política e derrotaremos quantas vezes for necessário”.
A parlamentar também cobrou uma resposta do Itamaraty, exigindo que o embaixador americano no Brasil preste esclarecimentos. “Se têm algo a dizer sobre mim, que falem baixo, dentro da embaixada, cercados pelo nosso Estado Democrático de Direito”, ironizou. Hilton reforçou que, como cidadã brasileira, tem seus direitos garantidos pela Constituição e prometeu lutar juridicamente contra a decisão. “Isso é sobre a existência de pessoas trans, mas também sobre até onde um governo pode ir para apagar quem somos”, concluiu.
Sim, é verdade. Fui classificada como do "sexo masculino" pelo governo dos EUA quando fui tirar meu visto para ir à Brazil Conference, na Universidade de Harvard e no MIT.
— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) April 16, 2025
Não me surpreende. Isso já está acontecendo nos documentos de pessoas trans dos EUA faz algumas semanas.… pic.twitter.com/LmpkZ7axHO