Jovem lésbica relata tortura de namorada e amiga trans presas pelo Talibã no Afeganistão
20 de março deveria ser o dia da liberdade para Parwen Hussaini, de 20 anos, e sua namorada, Maryam Ravish, de 19. Após meses de planejamento, as duas, junto com a amiga Maeve Alcina Pieescu, 23, tentaram escapar do Afeganistão, onde ser LGBTQIAPN+ pode levar à prisão ou execução. No entanto, uma mudança de planos no Aeroporto de Cabul separou Parwen das companheiras: enquanto ela embarcou sozinha em um voo para o Irã, Maryam e Maeve foram detidas pelo Talibã. Duas semanas depois, a jovem revela que ambas estão sendo torturadas diariamente para revelar informações sobre outras pessoas LGBTQIAPN+.
Em entrevista ao PinkNews com a ajuda da ativista Nemat Sadat, Parwen descreveu cenas de extrema brutalidade. “Elas são espancadas até desmaiar, jogam água quente nelas e, quando acordam, o interrogatório recomeça”, contou. Maeve, uma mulher trans cujos documentos ainda a identificam como homem, corre perigo ainda maior após supostamente admitir, sob tortura, que não segue o islamismo. O Afeganistão é o segundo pior país do mundo para pessoas LGBTQIAPN+, segundo a Equaldex, e o Talibã aplica a Sharia, que prevê pena de morte para relações homoafetivas.
O trio pagou cerca de US$ 2 mil (cerca de R$ 10 mil) a intermediários para garantir passagem segura, mas tudo indica que foram traídos. Maeve, que é tadjique, foi orientada a se passar por prima de Maryam, da etnia hazara – algo que, segundo Sadat, seria facilmente desmascarado. “Os documentos mostram a etnia, e qualquer afegão perceberia a diferença”, explicou. Agora, as jovens enfrentam um julgamento sem transparência, e ativistas temem que as acusações sejam fabricadas. “Podem ser seis meses de prisão, amputação de um membro ou execução. Não sabemos”, disse Sadat.
Enquanto aguarda notícias, Parwen manda um recado à namorada: “Não desista. A liberdade é nosso direito.” Organizações de direitos humanos pressionam por intervenção internacional, mas o tempo é curto. “Estamos trabalhando dia e noite para salvá-las”, afirma Sadat. Enquanto isso, Parwen, agora em segurança, vive com o peso da culpa e a esperança de reencontrar Maryam e Maeve vivas.
[Fonte: PinkNews / Colaboração: Nemat Sadat]