Investigações revelam abusos sexuais e físicos contra afegãos LGBTs detidos pelo Talibã
Uma investigação da CNN revelou casos chocantes de abusos sexuais e físicos sofridos por pessoas LGBTQIAPN+ em centros de detenção no Afeganistão sob o regime do Talibã. O relatório, baseado em relatos de cinco sobreviventes, detalha o horror enfrentado pela comunidade desde a retomada do poder pelo grupo extremista em agosto de 2021, após a retirada das tropas americanas do país. A homossexualidade, punível com a morte no Afeganistão, é apenas uma das inúmeras realidades de repressão enfrentadas pela população LGBTQIAPN+.
Entre os relatos está o de Sohrab (nome fictício), de 19 anos, que descreveu os abusos brutais que sofreu enquanto estava detido sob acusação de sodomia. Segundo ele, um membro do Talibã o estuprou múltiplas vezes, ameaçando matá-lo caso contasse a alguém. “Meu corpo inteiro estava rezando pela minha morte”, disse à CNN. A denúncia de Sohrab começou quando sua família descobriu seu relacionamento com um namorado, expondo-o a acusações e à detenção. Embora tenha sido solto, foi avisado de que uma nova prisão resultaria em execução.
Outro caso destacado é o de Samiar, um homem trans de 22 anos, que foi detido e espancado por usar roupas masculinas. Mesmo agora em um país seguro, ele compartilha que as memórias de medo e desamparo ainda o assombram. Casos como os de Sohrab e Samiar são acompanhados por organizações de direitos humanos como a Roshaniya, que registrou 825 episódios de violência contra pessoas LGBTs desde 2021, embora o número real possa ser muito maior devido ao medo generalizado de represálias.
Os direitos das mulheres também foram drasticamente reduzidos sob o Talibã, com proibições à educação, ao trabalho e até mesmo a atividades recreativas básicas, como visitar parques. Além disso, elas estão sujeitas a regras rígidas de vestimenta e movimentação, sendo obrigadas a contar com a presença de um acompanhante masculino para viagens acima de 75 km. Esse contexto de repressão reflete o retorno de um regime que reforça o controle por meio do medo e da violência.
Em resposta à investigação, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Talibã negou as acusações de abuso, alegando que tais relatos são “invenções” e que os atos de sodomia e outras “perversões” são tratados dentro da estrutura legal islâmica. No entanto, os testemunhos documentados, somados às evidências da brutalidade e ao silêncio forçado de sobreviventes, reforçam a urgência de ações internacionais para proteger as comunidades marginalizadas no Afeganistão.