“Fiz uma Tieta com alma gay”, diz Betty Faria ao revisitar icônica personagem em novela de 1989

Ícone da teledramaturgia brasileira, Betty Faria reviveu sua personagem mais emblemática, Tieta, durante uma homenagem emocionante promovida pela marca Misci, em São Paulo. A celebração ocorreu em meio à reprise da novela Tieta (1989) no Vale a Pena Ver de Novo.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, a atriz se disse surpresa com o novo fôlego da personagem: “Fiquei encantada com esse retorno. Me pergunto por que estão gostando tanto dela, tão rebelde, dado este mundo cada vez mais tradicionalista. A geração atual é muito reprimida, então me surpreendi.” A novela, que causou furor na virada dos anos 1980 para os 1990, permanece viva na memória afetiva do público e ressoa ainda mais forte em tempos de retrocesso.

Betty destacou que criou Tieta a partir de valores de liberdade e inclusão. “Foi um presente. Tieta traz esperança, liberdade, fala de respeito às diferenças. Ela tinha uma amiga, Ninete, personagem de Rogéria, que era trans. Minha personagem era abaixo ao preconceito. Fiz uma Tieta com alma gay”, afirmou. O reencontro com a personagem aconteceu durante um desfile da Misci que exaltava símbolos da cultura brasileira com um olhar contemporâneo e politizado.

Um dos momentos mais marcantes da novela, citado pela própria atriz, é a cena em que Tieta confronta o moralismo do sobrinho e amante Ricardo, vivido por Cássio Gabus Mendes. Na ocasião, a protagonista defende a amiga trans Ninete de ataques transfóbicos com um discurso potente que atravessa gerações: “Gente, é só pra isso que sexo serve? Pra multiplicar? Então, a gente vai pra cama só pra reproduzir? É isso, Cado? Não vai pra ter prazer? Cada um que encontre sua maneira de amar, de ter prazer, de viver. Só porque não é igual a tua maneira, tu vai achar que tá errada? Se tu não entende, tu julga, vai julgar e vai condenar? Abra o seu coração, a sua cabeça.”

Mais de três décadas depois, Tieta continua sendo um símbolo de resistência e liberdade, especialmente para quem desafia as normas sociais e de gênero. Em um Brasil marcado por retrocessos conservadores, Tieta ressurge como um farol — ousada, livre e, como a própria atriz definiu, com alma gay.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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