Em decisão inédita, Igreja indeniza homem gay submetido a exorcismo para “curar” sexualidade

Em um caso inédito no Reino Unido, Matthew Drapper, de 37 anos, recebeu uma indenização de valor não revelado — estimado em cinco dígitos — após ser submetido a um ritual de exorcismo com o objetivo de suprimir sua orientação sexual. O episódio ocorreu em 2014, durante um retiro religioso organizado pela paróquia anglicano-batista St Thomas Philadelphia, em Sheffield, no norte da Inglaterra. À época, Drapper era voluntário na congregação e foi convidado para o evento “Encounter God Weekend”, onde líderes religiosos alegaram que sua “impureza sexual” o tornava vulnerável a demônios e realizaram um ritual de expulsão espiritual.

O impacto do episódio foi devastador para Matthew, que revelou ter enfrentado anos de depressão e pensamentos suicidas. “Olhando para trás, parece algo de um filme de terror – ter alguém em pé sobre você dizendo que consegue ver os demônios saindo do seu corpo é bastante assustador… mas, quando você está profundamente ligado à igreja, como eu estava naquela época, é fácil acreditar em tudo o que dizem”, contou. Em 2016, ele rompeu com a igreja e, três anos depois, apresentou uma queixa formal. A Diocese de Sheffield contratou a organização Barnardo’s para investigar o caso, cujo relatório, concluído em 2022, identificou o ritual como uma forma de terapia de conversão.

Com base nesse relatório, Drapper decidiu mover uma ação legal contra a congregação. O processo resultou no primeiro pagamento de indenização por práticas de exorcismo ou “cura gay” motivadas por crenças religiosas já registrado no país. O advogado Richard Scorer, que representa Matthew, declarou que o caso “deve servir como um alerta para instituições religiosas que utilizem justificativas espirituais para aplicar práticas discriminatórias contra pessoas LGBTQ+”. A paróquia envolvida emitiu um pedido público de desculpas, reconhecendo falhas na condução dos cuidados com os membros da comunidade.

Autor do livro Bringing Me Back to Me, Matthew Drapper agora trabalha para transformar sua experiência em acolhimento e reparação. Ele planeja lançar uma plataforma digital dedicada a apoiar vítimas de terapias de conversão e práticas religiosas abusivas. Apesar de o governo britânico ter prometido banir oficialmente tais práticas desde 2018, até hoje não há uma legislação definitiva em vigor que proíba a chamada “cura gay” no país.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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