Maldivas proíbe casais gays e biquínis nas praias, mas resorts de luxo lucram com turismo LGBTQIA+
Um dos destinos mais desejados do mundo, as Maldivas seguem vendendo a imagem de paraíso tropical — mas a realidade para a comunidade LGBTQIAPN+ está longe de ser tão acolhedora quanto os bangalôs sobre o mar sugerem. Recentemente, o país reforçou sua proibição de casais do mesmo sexo e o uso de biquínis em praias públicas, reafirmando sua legislação ultraconservadora que criminaliza relações homoafetivas. Ainda assim, as Maldivas seguem sendo promovidas por celebridades como Ludmilla e Brunna Gonçalves, que compartilharam registros românticos em uma ilha privada — algo que, para muitos, soou contraditório: como um país que criminaliza LGBTs pode lucrar com o dinheiro deles?
Segundo Vitor Vianna, especialista em viagens e apresentador do programa Aventureiros, a resposta está na dualidade hipócrita entre o que é permitido para a população local e o que é liberado em nome do turismo de luxo. “As Maldivas são um país muçulmano demasiadamente conservador, onde a homossexualidade é considerada crime segundo às leis locais”, explica. Em ilhas habitadas por maldívios, demonstrações de afeto entre pessoas do mesmo sexo podem ser não apenas mal vistas, mas até mesmo punidas legalmente.
Acontece que, dentro dos luxuosos resorts privados — que funcionam como bolhas internacionais em ilhas exclusivas — as regras mudam. “Nos resorts privados das Maldivas, o clima é diferente”, afirma Vianna. “As leis locais não se aplicam com o mesmo rigor dentro dessas propriedades, e casais LGBTQIA+ geralmente são bem-vindos, especialmente em resorts de alto padrão acostumados a receber hóspedes do mundo todo.” Ou seja, o acolhimento só vem quando há dinheiro envolvido — uma clara contradição que escancara o pink money sendo explorado mesmo onde corpos LGBTQIA+ não são respeitados.
Essa situação reforça a importância de pensar turismo de forma crítica. É possível viajar para as Maldivas sendo LGBTQIA+? Sim, desde que se tenha recursos para pagar pela exclusividade e que se evite circular por áreas públicas — o que, na prática, reafirma desigualdades. Vianna alerta: “Respeite as tradições locais fora do resort e informe-se sobre a política de acolhimento antes de viajar”. Mas vale a reflexão: até que ponto estamos dispostos a investir em destinos onde nossa existência é aceita apenas quando mediada por dinheiro?