Prefeito de Cuiabá interrompe e censura professora da UFMT que falou ‘todes’ durante palestra
A abertura da 15ª Conferência Municipal de Saúde de Cuiabá, realizada nesta terça (30/08), foi marcada por um episódio lamentável de censura e transfobia institucionalizada. O prefeito da capital mato-grossense, Abilio Brunini (PL), interrompeu a apresentação da professora Maria Inês da Silva Barbosa, doutora em saúde pública pela UFMT, por ela utilizar o termo “todes” durante sua fala. A especialista abordava o tema do acesso igualitário e universal ao SUS quando foi interrompida por Brunini, que ameaçou suspender sua participação sob a justificativa de “doutrinação ideológica”.
“Durante a minha gestão, não vou aceitar a manifestação de pronome neutro. Se a senhora não se sentir voluntária em fazer uma apresentação que discuta saúde, sem doutrinação ideológica, eu vou suspender a apresentação”, declarou o prefeito, aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sua atitude foi prontamente reprovada pelo público presente, que respondeu com vaias e gritos. Diante da tentativa de silenciamento, a professora reafirmou o caráter técnico e inclusivo de sua fala, enfatizando que equidade só se faz reconhecendo “todas, todos e todes”.
“Eu estou falando de um direito à saúde. Estou falando do acesso universal e igualitário. O acesso universal e igualitário é para todas, todos e todes”, respondeu Maria Inês, antes de deixar voluntariamente a mesa de abertura. A prefeitura, por sua vez, reafirmou a proibição da linguagem neutra em eventos institucionais, alegando defesa da “norma culta” e da “neutralidade ideológica”, ignorando que a defesa da vida e da saúde de pessoas LGBTQIA+ é uma pauta de Estado, não de opinião.
Curiosamente, a programação do evento incluiu o deputado Osmar Terra, conhecido por defender a cloroquina na pandemia, como palestrante — sem que isso fosse considerado ideológico. A postura do prefeito Brunini, que participará de ato pró-Bolsonaro no domingo, apenas reforça o uso da máquina pública para impor valores reacionários e silenciar vozes dissidentes.