Trans brasileira é detida de forma truculenta e transfóbica por agentes da imigração nos EUA
A prisão da brasileira Alice Barbosa, de 28 anos, expõe com força o cenário de endurecimento das políticas contra imigrantes e pessoas trans nos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. Mulher trans vivendo a há mais de cinco anos no país, Alice foi detida de forma violenta no último sábado (23/08), em Maryland, por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE).
O órgão informou que ela permanecerá presa até ser deportada ao Brasil, citando como justificativa detenções anteriores relacionadas à “posse de substância controlada e posse de maconha”e a permanência irregular no país. O comunicado oficial, divulgado na terça-feira (26/08), usou o nome de registro masculino da brasileira e pronomes masculinos, em consonância com a diretriz do presidente americano de negar identidades trans e reconhecer apenas dois gêneros: masculino e feminino.
O episódio foi registrado em vídeo e testemunhado por Stefany Ramos, amiga de Alice. Segundo ela, a abordagem foi arbitrária e extremamente agressiva. “Eles chegaram sem uniforme, apenas com distintivos, forçaram o vidro do carro, abriram a porta e a levaram algemada. Durante toda a ação, a chamaram de homem, desrespeitando sua identidade e ignorando sua dignidade”, contou ao jornal Globo. Nas imagens, é possível ouvir Alice corrigindo imediatamente um dos agentes quando ele se refere à brasileira no masculino.
A ausência de informações claras sobre o local em que Alice se encontra aumenta a preocupação com sua integridade. O uso de seu nome de registro pelo ICE reforça o temor de que ela tenha sido encaminhada para um centro de detenção masculino, o que a exporia a riscos ainda maiores. O Ministério das Relações Exteriores afirmou acompanhar o caso por meio do Consulado-Geral do Brasil em Washington, enquanto o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania declarou estar atuando para assegurar assistência consular, jurídica e a proteção dos direitos da brasileira.
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) também se pronunciou sobre a prisão, cobrando ação efetiva do governo brasileiro. “É papel do Itamaraty prestar apoio consular, jurídico e humanitário à Alice Correia Barbosa. Negar sua identidade de gênero é uma violência que se soma à própria arbitrariedade da prisão”, afirmou. Para a parlamentar, a conduta das autoridades norte-americanas fere não apenas direitos humanos básicos, mas também princípios constitucionais dos EUA, que garantem devido processo legal a todas as pessoas em seu território.