“Vivo quem eu sou”: Stella Thainá faz história como primeira mulher trans da Polícia Militar de Pernambuco
A pernambucana Stella Thainá da Silva, de 27 anos, acaba de fazer história ao se tornar a primeira mulher trans a integrar a Polícia Militar de Pernambuco com sua identidade de gênero reconhecida. Nascida e criada na comunidade da Várzea, Zona Oeste do Recife, Stella cresceu ao lado da mãe, dona Ieda, e desde pequena se encantava pelos carros de polícia, sem imaginar que, anos depois, aquele universo se tornaria parte da sua vida.
Sua trajetória é marcada por coragem, determinação e autenticidade. Em entrevista ao Diário de Pernambuco, Stella contou que desde muito cedo sentia que não se encaixava no que esperavam dela. “Eu pensei ‘tomara que seja um câncer’, porque aí vão ter que tirar meu pinto e fazer uma vagina”, relembra, com a franqueza de quem passou por um processo profundo de autodescoberta e aceitação. Hoje, ela fala com orgulho sobre quem é: “Vivo quem eu sou.”
Durante os sete meses do curso de formação da PMPE, Stella conquistou o respeito e o carinho dos colegas de farda. “Eu era conhecida por ser mulher trans. Depois fui conhecida por ser Stella”, contou, destacando que sua identidade nunca foi um obstáculo para o compromisso e o profissionalismo que leva para o trabalho. O reconhecimento veio naturalmente, à medida que ela se afirmava com competência e verdade.
Mais do que uma conquista pessoal, o feito de Stella carrega um significado coletivo. Em um país que ainda lidera o ranking mundial de assassinatos de pessoas trans, ver uma mulher trans vestindo a farda e ocupando um espaço de autoridade e segurança pública é um símbolo poderoso de representatividade e resistência. “Não busco visibilidade, mas sei que represento um pioneirismo, que pode inspirar e abrir caminhos para outras pessoas”, afirmou.
A história de Stella rompe estigmas e desafia estruturas que, por muito tempo, pareceram intransponíveis. Sua presença na corporação é um lembrete de que a diversidade não é uma ameaça — é um espelho do que o Brasil realmente é. E que viver quem se é, em toda a plenitude, pode ser também um ato de serviço público e coragem.

