Relíquia! Foto de casal gay de 1897 revela uma história de amor com ligação ao Brasil
Uma fotografia feita em 1897 guarda uma das histórias mais raras e comoventes do amor entre dois homens — e uma ligação direta com o Brasil.
Os protagonistas são Eduardo de Alencar e Miguel Duarte, que se conheceram em 1891, no colégio interno de São Bartolomeu, em Coimbra, Portugal. Entre missas obrigatórias e olhares discretos nos corredores, os dois jovens se apaixonaram em meio à rigidez da formação religiosa.
Quando deixaram o colégio, em 1896, decidiram tentar a vida em Lisboa. Alugaram um quarto simples no Chiado e diziam ser “primos”. Eduardo trabalhava como auxiliar de contabilidade; Miguel, como copista em uma tipografia. Viviam discretamente, dividindo despesas, livros e sonhos — e aquele tipo de cumplicidade que o tempo transforma em amor.
Em 1897, um amigo pintor, de ideias liberais, pediu para fotografá-los. A imagem, preservada até hoje, registra um gesto de ternura que atravessou séculos e sobreviveu às tentativas de apagar histórias como a deles.
Miguel adoeceu em 1911, vítima de uma febre que se espalhou por Lisboa. Eduardo cuidou dele até o fim. Um ano depois, deixou Portugal e embarcou para o Brasil, fixando-se em Salvador. Viveu de forma discreta, jamais se casou e manteve, até sua morte em 1939, aos 62 anos, a fotografia e as cartas que guardavam a lembrança do companheiro.
O registro foi recentemente resgatado pelo ativista Toni Reis, que compartilhou a imagem e a história nas redes sociais, relembrando um passado em que quase não há vestígios de casais LGBTQIA+.
A história faz parte do livro Loving: A Photographic History of Men in Love, 1850s–1950s, organizado por Hugh Nini e Neal Treadwell, publicado em 2020 pela editora Five Continents Editions. A obra reúne mais de 2.700 fotografias de casais masculinos entre meados do século XIX e meados do XX, capturadas em diferentes países — muitas encontradas em feiras de antiguidades, arquivos familiares e caixas esquecidas. O livro é hoje considerado um dos mais importantes documentos visuais da história do amor gay, justamente por resgatar a memória de um afeto que quase nunca foi fotografado, muito menos reconhecido.
Mais do que um registro estético, a imagem de Eduardo e Miguel se tornou uma cortina aberta para o passado — uma lembrança de que o amor sempre existiu, mesmo quando não podia ser nomeado.

