Deputada indígena afirma em discurso que é obrigada a aceitar “mulheres que são homens”
- destaque Gente
Felipe Sousa- 0
- 4minutos para ler
A deputada bolsonarista Silvia Waiãpi (PL-AP) afirmou em discurso na Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (11/04), que é obrigada a aceitar “mulheres que são homens“. O comentário transfóbico foi feito durante a sessão da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais da Câmara dos Deputados, que conta com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
A fala de Silvia veio após ela ter a sua legitimidade indígena questionada pelo deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP). Malafaia afirmou que a cultura indígena passa por um “estelionato” e que havia representantes que diziam representar os povos originários sem, de fato, representá-los. “Os senhores querem que eu aceite alguém que se autodeclara mulher, sem ser mulher, biologicamente homem e eu sou obrigada a aceitá-lo. Mas não querem me aceitar“, disse a deputada. A presidente da comissão, Célia Xakriabá (PSOL-MG), logo intercedeu e relembrou que transfobia é crime. “Enquanto presidenta da comissão e como não aceitamos genocídio dos povos indígenas, a transfobia é crime e qualquer deputado que fizer menção responderá por seus atos“, disse Célia.
Em entrevista ao O Globo, Silvia Waiãpi reiterou o discurso que afirmou não ser transfóbico, mas uma reação ao ataque que recebeu. “O deputado com uma fala racista disse que não me reconhecia como indígena. A ministra silenciou mesmo sabendo que a Convenção 169/OIT – ONU garante o auto-reconhecimento. Diante do silêncio da ministra, eu respondi que o que ele pensava sobre mim não me interessava. Não me aceitam como indígena e querem me obrigar a aceitar um homem que sente mulher. A mim ele não aceita, eu fui violentada antes“, disse Silva.
Em 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela criminalização da homofobia e da transfobia, que passaram a ser enquadradas pela Lei de Racismo. Na decisão, a Corte definiu como crime condutas que “envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero de alguém“.
