Rússia: “Tive que castrar um porco”, diz mulher trans internada pelos pais em campo de conversão

Enquanto a Rússia continua a reprimir vidas LGBTQIA+, uma mulher trans contou ao portal inglês Pink News como foi forçadamente submetida a uma terapia de conversão, que envolvia “treinamento de masculinidade”, incluindo receber ordens para castrar um porco.

Seus próprios pais “profundamente religiosos” são membros da Igreja Ortodoxa Russa, portando, assumir o compromisso deles não saiu como planejado. “Eles me disseram que [ser trans] é um veneno do diabo, que a cultura ocidental envenenou meu cérebro”, diz Ada Blakewell. Depois de sair da casa dos pais em 2018, ela voltou a visitá-los um ano depois. Segundo Ada, sua mãe precisava de uma cirurgia cardíaca e queria que ela fosse com ela ao hospital. No entanto, tudo não passou de uma encenação!

“Era como um teatro e eu era a espectadora”, lembra Ada. “Quando íamos para o centro de cardiologia, saímos subitamente da estrada principal e seguimos por alguns caminhos rurais, de terra e cascalho. De repente, paramos. Minha mãe saiu do carro. Então um homem realmente enorme – parecendo um bandido russo dos anos 1990 – apareceu e disse: ‘Bem, agora você tem que pagar por toda a sua merda’.”

O centro para onde ela foi levada não era exclusivamente para pessoas LGBTQIA+. Também abrigou pessoas que lutavam contra o vício em drogas e álcool, bem como com problemas de saúde mental. Os seus aparelhos electrónicos e todos os meios de comunicação com o mundo exterior foram-lhe retirados durante os nove meses em que esteve no centro. Enquanto estava lá, Ada foi isultada com transfobia e forçada a orar. “Era como um acampamento semirreligioso onde tínhamos que entregar a nossa vontade a Deus e orar para que ele ajudasse a curar as nossas doenças incuráveis”, relata a jovem.

Ada também passou por “treinamento de masculinidade”, incluindo contruções e cortes de troncos de madeiras. “Eles fizeram coisas bem estranhas”, lembra ela. “Uma vez, me obrigaram a castrar um porco ‘porque eu queria mudar de sexo’. Não consegui terminar porque tive um grave ataque de pânico.” Como resultado, Ada ficou com transtorno de estresse pós-traumático.

Desde que saiu do centro de conversão, Ada Blakewell conseguiu encontrar pessoas que a amam e que a aceitam. Ela conta ser obcecada por programas de TV LGBTQIA+ como “Heartstopper“, além de adorar o “estado de ser poliamorosa“. Mas a sua perspectiva otimista, arduamente conquistada, foi temperada pelo “conhecimento da desgraça que se aproxima da comunidade LGBTQ+ russa e que [ela] não pode impedir”.

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Felipe Sousa

Felipe é redator do Pheeno! Focado em explorar cada vez mais a comunicação em tempos de redes sociais, o carioca de 25 anos divide seu tempo entre o trabalho e a faculdade de jornalismo, sempre deixando espaço para o melhor da noite carioca!

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