Cidade espanhola “adota” imigrantes que ajudaram brasileiro gay morto em ataque homofóbico

A cidade de A Coruña, na Espanha, concedeu o título de “filhos adotivos” a dois imigrantes senegaleses, Ibrahima Diack e Magatte N’Diaye, em reconhecimento ao seu “puro altruísmo” ao tentarem salvar Samuel Luiz, um jovem brasileiro vítima de um brutal ataque homofóbico em julho de 2021. A homenagem ocorreu em uma cerimônia formal na segunda-feira (24/02), onde a prefeita Inés Rey destacou a coragem dos dois homens, que se arriscaram para ajudar Luiz enquanto ele era espancado por uma dúzia de agressores. O caso chocou a Espanha e levou a diversos protestos.

Samuel Luiz, de 24 anos, auxiliar de enfermagem, foi atacado do lado de fora de uma boate após um homem gritar ofensas homofóbicas e agredi-lo repetidamente. Testemunhas relataram que Diack e N’Diaye foram os únicos a intervir no momento, tentando proteger Luiz e afastar os agressores. No entanto, o grupo retornou com mais homens e espancou Luiz até deixá-lo inconsciente. O jovem morreu horas depois no hospital devido aos ferimentos. A amiga de Luiz, Vanesa, que estava presente no local, descreveu a cena como “aterrorizante” e destacou a importância da intervenção dos dois senegaleses.

A prefeita Inés Rey enfatizou que Diack e N’Diaye, que viviam na cidade sem documentação, colocaram-se em risco ao ajudar Luiz, já que poderiam ser presos ou deportados ao entrarem em contato com as autoridades. “O fato de dois imigrantes sem documentos terem sido os únicos que se arriscaram fisicamente para ajudar a vítima de uma matilha sedenta por horror deixa muito o que pensar e uma série de lições”, afirmou Rey durante a cerimônia. Ambos receberam placas simbólicas e o status de “filhos adotivos”, um gesto que reconhece não apenas seu heroísmo, mas também sua humanidade em um contexto de crescente intolerância.

Durante o evento, Diack e N’Diaye demonstraram modéstia ao receber a homenagem. “Não somos heróis, fizemos o que tínhamos que fazer”, disse N’Diaye. Diack, por sua vez, refletiu sobre os valores que sua família lhe ensinou: “Eles me deram respeito, educação e, acima de tudo, valores.” Os dois também testemunharam no julgamento dos assassinos de Luiz, que ocorreu em novembro de 2024. Quatro homens foram condenados pelo crime, com penas que variam de 10 a 24 anos de prisão.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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