Adoções por casais gays crescem mais de 240% em cinco anos no Brasil, aponta levantamento

Nos últimos cinco anos, o Brasil tem assistido a um avanço significativo na consolidação de famílias formadas por casais homoafetivos. Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgados pela CNN, mostram que o número de crianças e adolescentes adotados por dois pais cresceu de 77 em 2019 para 263 em 2024, um salto de 241,56%. Apenas no primeiro semestre deste ano, até julho, foram registradas 178 adoções, número 29% maior em comparação ao mesmo período de 2023. O levantamento revela uma tendência de crescimento contínuo e aponta para uma mudança no cenário da adoção no país.

Quando somadas às adoções realizadas por duas mães, o impacto é ainda mais expressivo: no intervalo de cinco anos, o número de crianças adotadas por casais homoafetivos triplicou, passando de 149 casos em 2019 para 458 em 2023. Apesar desse avanço, o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) ainda registra 5.369 crianças e adolescentes à espera de uma família, enquanto quase 33 mil pessoas se encontram na fila de pretendentes. A discrepância está ligada aos perfis desejados — muitos candidatos preferem recém-nascidos ou crianças brancas, enquanto os menores disponíveis em sua maioria não se enquadram nesses padrões.

Especialistas destacam que casais homoafetivos têm desempenhado papel fundamental nesse processo ao adotarem justamente os perfis que encontram maior resistência entre famílias heterossexuais, como grupos de irmãos, crianças mais velhas e negras. Para Silvana do Monte Moreira, presidente da Comissão Nacional de Adoção do IBDFAM, essa postura está diretamente ligada à experiência de marginalização vivida por esses casais: “Os casais que vivem à margem da sociedade, que foram marginalizados ‘dentro do armário’, procuram crianças que também estão nesse armário; são aquelas menos vistas”, afirmou.

Histórias como a dos arquitetos Rafael Escrivão Sorrigotto e Luciano da Silva Rodrigues reforçam esse cenário. Em 2016, o casal adotou os irmãos Davi Luiz e Allan, então com 3 e 10 anos. Eles contam que não restringirem a busca a recém-nascidos e aceitarem irmãos foi determinante para acelerar o processo. “O tempo que demora pra você entrar na fila de adoção e seu telefone tocar vai depender muito do perfil que a gente pede. Como a gente não fazia questão de recém-nascido e topava irmãos, acho que foram dois pontos que fizeram toda a diferença”, explica Escrivão. Desde a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2015, que garantiu o direito de adoção a casais homoafetivos, os dados confirmam que esse caminho tem se consolidado como alternativa essencial para acolher crianças historicamente invisibilizadas pelo sistema.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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