Travesti negra amarrada e torturada em Teresina conta que implorou para ser morta

Há um mês, a travesti Paloma Amaral, de 32 anos, estampou os noticiários ao aparecer em vídeo sendo torturada por moradores do bairro São Joaquim, na zona norte de Teresina, no Piauí. O crime, gravado e postado nas redes sociais, teria ocorrido após Paloma furtar um colar e um botijão de gás no bairro. Em recente entrevista, ela conta que implorou para os agressores para ser morta.

Caí nas garras do Estado. Eu apanhei da população. Eu estava passando por necessidade, por isso roubei, peguei no que era alheio, por não aguentar mais tanta fome. Preciso de um emprego, de uma casa para morar“, disse Paloma ao Folha de S. Paulo. Nas imagens, ela aparece com pés e mãos amarradas, levando socos e chutes, logo depois foi colocada dentro do porta malas de um carro, onde continua apanhando. Além das agressões, Paloma teve os documentos queimados durante o episódio de violência. Após uma semana, acompanhada da Gerência de Enfrentamento à LGBTfobia e do Centro de Referência LGBT, da Secretaria da Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos, obteve a segunda via da carteira de identidade e a carteira do nome social.

Com medo de novas agressões, ela precisou se mudar para um bairro vizinho. A assistente social Ayra Dias, do Fonatrans (Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros), foi atrás dela pelas ruas da cidade e encontrou Paloma em uma casa que estava sendo demolida. “Trouxe para minha casa, a fim de garantir, minimamente, esse lugar de estadia para ela, um lugar para dormir e uma alimentação digna para aquela que sofreu todas as violações de direito“, conta Ayra a publicação. “Paloma tem 32 anos e poderia ser mais uma daquelas que têm suas vidas ceifadas antes dos 35. Queremos travestis vivas, não apenas chorar suas mortes.

Atualmente, equipes do estado e do município fazem acompanhamento de toda a situação, com visitas periódicas ao abrigo onde ela está morando e à casa da família da vítima. O Ministério Público instaurou no dia 21 de julho dois inquéritos com o objetivo de apurar as agressões sofridas por Paloma no dia 19 de julho. Já a Guarda Civil disse que vai apurar se os agentes aparecem no vídeo falharam no procedimento durante a violência cometida contra a travesti. Um inquérito policial também foi instaurado e tramita na Delegacia de Polícia de Repressão às Condutas Discriminatórias e Proteção aos Direitos Humanos de Teresina.

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Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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