O “direito de ofender” de Fábio Porchat e Léo Lins pode matar pessoas

No dia nacional da luta contra a homofobia, Fábio Porchat foi ao Twitter defender o amigo humorista Léo Lins após este segundo ter tido um especial de humor derrubado judicialmente por conter ofensas raciais e homofóbicas. Porchat, que já estrelou campanha “Sou um racista em desconstrução” disse: “Ele tem o direito de ofender (…) Se cada pessoa que se ofender com uma piada resolver tirar ela do ar, não sobra um Joãozinho, um papagaio, um argentino”.

Então, Porchat, é que o papagaio não tem consciência da ofensa e ela não afeta sua vida. Diferentemente de pessoas trans, que, quando ofendidas, tendem a cometer suicídio, ou de pessoas com deficiência, que quando ofendidas, tendem a sofrer depressão, o papagaio não paga a conta. Quem paga a conta de piadas que configuram crime é o viado, a puta, a travesti, o gordo, o preto, o cego.

Ninguém tem o direito de ofender essas pessoas e suas subjetividades, porque essas pessoas lutam infinitamente mais que você por sobrevivência. Pela sua luz, “Dentro da lei pode-se fazer piada com tudo tudo tudo”, mas você esquece que dentro da lei, racismo, homofobia, transfobia são crimes? Então esses crimes não podem ser apenados porque são piadas? QUE HISTÓRIA É ESSA, PORCHAT?

Lins foi denunciado, processado, demitido inúmeras vezes em sua carreira pelas mesmas razões e isso não é suficiente para que repensemos o humor que ele faz e o que ele expressa através disso? Não é piada, mas ódio. Léo Lins odeia pretos, mulheres, gays, travestis e se vale da piada para atravessar essas pessoas e passar impune. E leva com ele uma cambada de homens cishéteros brancos que se unem para defendê-lo. É assim que funciona o pacto.

O “direito de ofender” não existe na constituição brasileira, não consta nos papeis, não aparece nas literaturas, não vigora nas sociedades e jamais será um direito, mas crime. E nós estaremos aqui para sim, para derrubá-lo, para tirar do ar sempre que for preciso, sempre que a piada for crime, sempre que nossas vidas estiverem em risco.