O problema não é tanto o Zezé, mas o gay que concorda com o Zezé

O dia de ontem (23) nos mostrou mais uma vez como muitos héteros e gays infelizmente ainda estão na mesma página errada. O cantor sertanejo bolsonarista disse em um mesacast que o influenciador Lucas Guimarães, marido de Carlinhos Maia, não parecia gay, mas sim um “cara normal”. Para piorar, estendeu a comparação ao seu assistente que, segundo o sertanejo, “parecia uma mulher”. A polêmica tomou conta da internet estarrecida com a fala do cantor que recebeu indignação de artistas e seguidores.

Mas estamos esquecendo que Lucas Guimarães não deu uma retrucada sequer. Aceitou aquela fala violenta como se concordasse com ele, porque afinal ele é o marido do “cara que casou com outro cara”, e não um casamento gay, sem beijo, inclusive. Estamos falando de bolsonaristas conservadores sentados à mesa. Héteros e gays conservadores que assumem ter traídos seus cônjuges ratificando a interjeição “nunca falha”. A saber, sim, Carlinhos Maia e o marido declararam apoio ao ex-presidente homofóbico em 2018.

Estamos focando em quem é irremediável, porque o homem cis hétero não tem interesse em entender questões da diversidade, nem vende ou consome coisas relacionadas a nossa existência. Mas um gay que recebe ao vivo uma fala com essa e não se manifesta em nenhuma camada, ainda que seja para corrigir ou amenizar “na amizade” o close errado do convidado, merece sim nossa atenção, mesmo que negativa. Porque é ele que influencia outros gays a tomarem esse impropério como verdade, é o influenciador gay com milhões de seguidores cujo silêncio diz: “eu também acho”.

Lucas Guimarães e Carlinhos Maia não são exemplos do que um LGBT deve ser ou fazer desde outrora, mas em 2023, ao vivo para milhares de pessoas, com a oportunidade na mão de desbancar uma opinião preconceituosa e desperdiçá-la, só nos mostra que o caminho ainda está pela metade e que nós ainda damos audiência para gente que não merece, que gastamos nosso tempo com com gente que não tem interesse em contribuir com a existência, mas com o apagamento dela.