40 Anos de ‘A Hora do Pesadelo 2’: O terror que virou um ícone gay (e polêmico) da cultura pop

Quatro décadas depois de seu lançamento, A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985) permanece um dos filmes mais discutidos do gênero – não só pelo terror, mas por sua inegável carga homoerótica. Enquanto a franquia original de Wes Craven se prepara para celebrar 40 anos em 2025, a sequência dirigida por Jack Sholder ganha destaque por ousar onde poucos filmes de terror da época o fizeram: com um protagonista masculino vulnerável, Jesse (Mark Patton), que enfrenta Freddy Krueger não apenas como um assassino, mas como uma força que deseja “habitá-lo”. O resultado? Uma alegoria involuntária (ou não) sobre sexualidade reprimida.

O subtexto gay, hoje óbvio, foi confirmado em 2010 pelo roteirista David Chaskin, que admitiu ter inserido intencionalmente elementos queer na trama – ainda que de forma velada. Jesse vive um conflito interno entre o que é esperado dele (seu romance com Lisa, interpretada por Kim Myers) e seus desejos mais profundos, simbolizados por Freddy e sua atração pelo colega Ron Grady (Robert Rusler). Cenas como a famosa sequência da dancinha, em que Jesse rebola sensualmente sozinho no quarto, e a presença do treinador Schneider (Marshall Bell), um voyeur obcecado por seus alunos, reforçam o teor homoerótico.

No entanto, A Vingança de Freddy também carrega uma contradição perturbadora. No documentário Never Sleep Again (2010), Mark Patton – hoje assumidamente gay, mas na época ainda no armário – revelou o trauma de ter sua sexualidade explorada de forma negativa. Freddy, como metáfora da homossexualidade, é retratado como um monstro a ser combatido, e o clímax do filme sugere que o “verdadeiro amor” heterossexual (o beijo de Lisa) é a solução para “expurgar” o mal. Essa narrativa, mesmo que não intencional, ecoa discursos perigosos de “cura gay”, algo que envelheceu mal com o passar dos anos.

Apesar das críticas, o legado do filme é inegável. A Hora do Pesadelo 2 foi pioneiro em trazer um protagonista masculino frágil e emocional, subvertendo os arquétipos machistas dos slashers dos anos 1980. Sua estética queer, cheia de simbolismos e ambiguidades, abriu portas para discussões sobre representação LGBTQ+ no terror – mesmo que de forma imperfeita. Hoje, Patton abraça o filme como parte de sua história, participando de convenções e celebrando seu status de ícone cult, mas sem deixar de apontar seus problemas. E você, já tinha percebido todas essas camadas por trás do filme?

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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