Eduardo Leite volta a passar pano para Bolsonaro: “Ninguém pode celebrar um ex-presidente preso”
Durante entrevista ao programa Contexto Metrópoles nesta terça-feira (22/07), o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), voltou a adotar um discurso surpreendentemente complacente em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro — político que construiu sua carreira à base de ataques à população LGBTQIA+, da qual o próprio Leite faz parte. O governador criticou a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou o uso de tornozeleira eletrônica e proibiu Bolsonaro de ter qualquer declaração veiculada em redes sociais, inclusive por veículos de comunicação. Segundo Leite, a medida “é preocupante” e “equivale a uma prisão”.
A fala chama atenção — e não de forma positiva. Mesmo reconhecendo que a família Bolsonaro atua contra os interesses do Brasil ao instigar o presidente Donald Trump a aplicar tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, caso o ex-presidente seja condenado, Leite parece mais preocupado com os direitos políticos de um extremista do que com os riscos que ele representa. “Impedir um político de falar é uma restrição que pode ser demasiadamente perigosa e de difícil cumprimento”, declarou o governador, numa tentativa de suavizar a gravidade dos atos antidemocráticos de Bolsonaro.
Leite também saiu em defesa do ministro Luiz Fux, o único da Primeira Turma do STF a votar contra as sanções. De acordo com ele, a posição de Fux não representa um alinhamento com o bolsonarismo, o que, para Leite, legitimaria o questionamento às medidas. “Não tem como negar que o simples fato de [Bolsonaro] estar num lugar ou noutro será considerado uma manifestação política?”, questionou o governador, ignorando o histórico de incitação ao caos institucional promovido pelo ex-presidente — inclusive com consequências diretas para a segurança de pessoas LGBTQIA+ no país.
A postura de Eduardo Leite não surpreende quem acompanha sua trajetória política: apesar de gay declarado, ele já esteve alinhado com Bolsonaro durante seu primeiro mandato. Sua fala, agora, reforça essa contradição. Não basta ser um LGBTQ+ ocupando um cargo de poder se, na prática, opta por defender — ainda que disfarçadamente — quem sempre trabalhou contra os direitos da sua própria comunidade.