Um dia de perdas para serem pensadas: Rita e David vivem em nós

Como colunista de portal, há anos tenho preparado notas de falecimento semanas antes de pessoas morrerem. É assim que funciona para quem está do lado de cá da notícia e nos dá a impressão de que não temos tempo de sofrer pelas mortes de pessoas que amamos e admiramos. Mas não é verdade. Em especial para quem é parte de uma comunidade onde alguns tem expectativa de vida de 37 anos.

Mas, em alguns casos, talvez não devamos acreditar que as pessoas tenham partido cedo, ou que ainda eram jovens e que o mundo teve uma perda irreparável. Rita Lee partiu deixando um legado único na música, na intepretação, no ato político e influenciando gerações. Isso basta. Isso nos basta. Ela viveu quase todo o tempo que a natureza nos permite.

David Miranda sim, partiu jovem, e ainda sim deixou um legado político voltado para minorias pretas, LGBT e animais. Ganhou notoriedade por ser eleito assumidamente gay e deu voz a muitos LGBTs fazendo denúncias colocando na parede bancadas inteiras de religiosos homofóbicos. Isso basta. Isso nos basta. Ele viveu menos da metade do tempo que a natureza nos permite.

E assim a gente segue refletindo sobre como essas pessoas influenciaram o que somos até aqui e como elas podem ainda influenciar nossas decisões políticas, nosso pensamento coletivo e ações. Elas seguem sendo quem elas sempre foram, e a gente segue tentando ser melhor do que sempre fomos, ou de nada adianta tê-los como ídolos e referências, muito menos lamentar sua morte.

Um dia de perdas é feito para pensar sobre o que estamos fazendo para que as pessoas ao nosso redor tenham uma vida melhor, sobre como a gente pode contribuir para que as minorias consigam condições de sobrevivência digna e fazer o respeito prevalecer. David fez isso. Rita fez isso. Vamos lamentar ou fazer também?

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