“Policial não vê a hora de poder bater em gays”, diz investigador

Em recente entrevista ao site Carta Capital, o Investigadorr da Polícia Civil há mais de 23 anos em São Paulo, Alexandre Felix Campos, afirmou que uma parte dos policiais não vê a hora de Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito para poder bater em gays.

“Não escuto os policiais dizerem ‘poxa, agora vamos poder buscar o traficante x’, ‘vamos combater o narcotráfico’, ‘os grandes estelionatários’. Não, o policial só fala que não vê a hora de poder descer a mão no maconheiro da USP e no viado. É isso que, infelizmente, acontece”, disse Campos. “Vivemos um momento que, para mim, tem sido extremamente complicado, porque todo dia escuto alguma coisa do tipo ‘quando Bolsonaro ganhar a gente vai descer a borracha nesses viados’ ou ‘agora quero ver maconheiro da USP folgar com a gente'”, continuou.

Campos ainda usou um exemplo de homofobia que teria presenciado na última quarta-feira (24/10). “Eu estava no plantão policial na Zona Leste de São Paulo e chegou um casal de gays, com maquiagem no rosto. Foram lá porque sofreram golpe de um banco, pegaram o cartão de um deles e praticaram fraudes. Foram só fazer boletim de ocorrência. Eles chegaram, se apresentaram e a primeira coisa que o colega policial disse foi: ‘quando o ‘mito’ ganhar essa putaria vai acabar'”, disse o investigador.

“Não há nenhum tipo de justificativa plausível para esse ódio. Até porque os garotos foram extremamente educados, em momento algum fizeram qualquer tipo de agressões a nós. Quando buscam a polícia, as pessoas buscam o Estado. E com atitudes como essa a gente só reforça a ausência do Estado”, explicou. Campos ainda cita o caso da travesti Priscila, assassinada a facadas na última terça-feira (16/10), por eleitores de Bolsonaro, no Largo do Arouche, em São Paulo.

“Algumas pessoas que estavam lá viram os caras que bateram nela. Como estou na militância, me ligaram para avisar que haviam visto os agressores, que estavam sempre por ali. Fui até a delegacia e tentei conversar com o delegado para ouvir essas pessoas. O delegado simplesmente se recusou a ouvir essas pessoas. E ainda me ameaçou, de forma velada, que se eu continuasse ali eu seria preso por advocacia administrativa (quando um funcionário público usa seu cargo para patrocinar, direta ou indiretamente, interesses privados perante a administração pública)”, conta o investigador, que ainda prevê uma piora nas agressões motivadas por LGBTfobia.

“As pessoas já estão espancando gays, lésbicas, trans nas ruas e gritando que o fazem em nome de um candidato à Presidente da República. E os policiais batem palmas, do tipo ‘ah legal, agora vocês vão se foder mesmo’. Então, infelizmente, esse é o clima que vejo. E deve haver um endurecimento nos próximos dias. Não é algo nem para o próximo ano”, diz. Apesar disso, Campos faz questão de ressaltar nem todos os policiais pensam da mesma forma. “Mil policiais fazem parte do grupo ‘Policiais Antifascismo’, que é apoiado por outros 10 mil membros da Polícia Civil e alguns poucos da PM”, conclui.

Felipe Sousa

Felipe é redator do Pheeno! Focado em explorar cada vez mais a comunicação em tempos de redes sociais, o carioca de 25 anos divide seu tempo entre o trabalho e a faculdade de jornalismo, sempre deixando espaço para o melhor da noite carioca!

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