RJ: Peça propõe mergulho sensível nas complexas relações entre pais e filhos LGBTs

A partir do potente encontro entre o ator e dramaturgo Caio Scot e o livro Quem Matou Meu Pai, do francês Édouard Louis, nasce Papaizinho, espetáculo inédito que estreia em curtíssima temporada no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto, a partir de 17 de maio. Em cena, Caio divide o palco com Felipe Rocha numa obra que funde literatura, memórias pessoais e experimentações cênicas para investigar, com delicadeza e brutalidade, o lugar do pai — e de ser filho — em trajetórias marcadas pela intolerância e pelo desejo de reconexão. A peça será apresentada às sextas, às 20h, e aos sábados e domingos, às 19h.

Mais do que uma adaptação do livro de Louis, Papaizinho parte dele como disparador para outras camadas de criação: relatos pessoais de Caio, vídeos de arquivo em VHS e até audições reais realizadas para escolher “um pai” para a cena compõem o tecido dramatúrgico. “A gente foi descobrindo que, mais do que encontrar o pai ideal, o que queríamos era escutar essas histórias, entender esses clichês e contradições do que é ser pai”, conta Caio. Luisa complementa: “As pessoas compartilharam com tanta generosidade, que era impossível não colocar isso em cena. Foi um processo de escuta, muito transformador”.

A montagem expande o universo da narrativa original para costurar diferentes experiências de paternidade — das mais afetuosas às mais negligentes — em um mesmo corpo dramatúrgico. Com forte presença de vídeo e depoimentos reais, a peça questiona os limites da comunicação entre pais e filhos, especialmente quando atravessados por questões de gênero e sexualidade. “Não queríamos respostas prontas. Queríamos propor perguntas: o que é ser pai? O que é ser filho? Como podemos reinventar esse vínculo?”, explica Júlia Portes, uma das autoras do texto.

Com uma abordagem sensível e política, Papaizinho se recusa a reduzir o conflito a uma dicotomia simplista entre vilões e vítimas. Ao invés disso, aposta na complexidade, na escuta e na possibilidade de construir novas formas de afeto e convivência. “O livro foi nosso cavalo de Tróia, como disse Lucas Cunha. Mas a peça é outra coisa: uma nova história, criada a muitas mãos, feita de lembranças, ficções e desejos de mudança”, define Caio. Um convite potente para repensar as heranças emocionais que carregamos — e, quem sabe, deixar algumas para trás.

Felipe Sousa

Ariano e carioca, Felipe tem 31 anos e há mais de 10 é redator do Pheeno. Apaixonado por explorar a comunicação no cenário dinâmico das redes sociais, ele se dedica a criar conteúdos que refletem a diversidade e a vitalidade da comunidade LGBTQIAPN+. Entre uma notícia e outra, Felipe reserva tempo para aproveitar o melhor da vida diurna e noturna carioca, onde encontra inspiração e conexão com sua cidade.

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