Mangueira terá Maria Madalena com estética LGBT e Nossa Senhora de luto em desfile na Sapucaí

Inspirado nos principais ensinamentos de Cristo, que pregava tolerância e defendia os oprimidos, o desfile da Mangueira, campeã em 2019, levará neste ano para a Sapucaí uma Maria Madalena vestida com as cores do arco-íris LGBT e uma Nossa Senhora das Dores de luto, com uma bandeira do Brasil estilizada e a frase “estado assassino” no lugar do “ordem e progresso”.

Com o enredo “A verdade vos fará livre”, a escola terá como alegoria um Jesus que vive nos tempos modernos. “Cristo sempre se colocou ao lado dos oprimidos, nunca dos opressores. E é esse, o princípio do enredo da Mangueira: Cristo como difusor da fraternidade e combatente da opressão. (…) O país que mais mata homossexuais no mundo é o mesmo país que se registra como sendo 90% cristão. Há nessa informação um dado no mínimo discrepante”, escreveu em seu perfil, em defesa à personagem da Maria Madalena, que frequentemente é associada ao pecado.

Sobre a personagem “Maria das Dores Brasil”, a proposta é simbolizar o sofrimento da “mãe do Cristo ‘original”, mas também abarcar as mães nas periferias do País que perdem seus filhos pela violência. “A fantasia, ‘Maria das Dores Brasil’ é (…) uma extensão do sofrimento de milhares de outras mães nas periferias brasileiras que tiveram filhos vítimas de políticas públicas de violência e despreparo”, ressaltou.

A Estação Primeira de Mangueira desfilará no primeiro dia do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro.

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#BastidoresDaCriação: Um pouquinho das minhas ideias para o carnaval 2020 em cores e formas começa a se tornar pública. Bora vestir nossas bandeiras Estação Primeira? Na foto, minha versão para a ala "MARIA MADALENA ANO 2.000." "No imaginário popular, Maria Madalena ficou muito associada ao pecado. Mas sua figura histórica é a da mulher oprimida que foi defendida por Cristo. Ela seria apedrejada, e Jesus disse: ‘quem não tem pecado que atire a primeira pedra’. Cristo sempre se colocou ao lado dos oprimidos, nunca dos opressores. E é esse, o princípio do enredo da Mangueira: Cristo como difusor da fraternidade e combatente da opressão." Quando a figura histórica de Maria Madalena ganha contornos estéticos associados a estética LGBT a conscientização sobre os crimes de ódio contra uma população que sofre na pele com a violência dos mecanismos ideológicos e repressivos passa a ser um dado artístico que leva ao debate dos direitos da minorias e de pautas que muitos pretendem tornar vazias. O país que mais mata homossexuais no mundo é o mesmo país que se registra como sendo 90% cristão. Há nessa informação um dado no mínimo discrepante. É dessa discrepância que nasce a centelha criativa que me leva a criar a "Maria Madalena de Mangueira". Para a teóloga Rose Costa, professora da PUC-Rio, trata-se "de uma abordagem bastante correta e coerente com o que está no Evangelho. Maria Madalena, por exemplo, foi marginalizada em seu tempo, considerada adúltera, e foi acolhida por Jesus, que é, sim, um ser político, que questionou a estrutura de poder de seu tempo".

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#BastidoresDaCriação: O enredo de uma escola de samba é uma proposta artística. Como tal, ele se apresenta através de mecanismos lúdicos que tendem a despertar sensações. Esses "mecanismos" são a matéria prima do trabalho que realizo. Em "A verdade vós fará livre" – a peça artistica que desenvolvo para apresentar no carnaval de 2020 – o Cristo de dois mil anos atrás é posto na situação do Brasil de dois mil anos depois. O Cristo que nasceu numa família pobre da Galiléia, nasce agora numa família pobre do Morro de Mangueira. Há dois mil anos atrás Cristo foi julgado bandido, seu corpo torturado e quem o matou, foi o Estado. Muitas vezes o Estado é sim assassino. Não faltam exemplos para justificar que ele – O Estado – nunca deixou de "pegar alguém pra Cristo." A fantasia, "Maria das Dores Brasil" é então uma tradução da mãe do Cristo "original" mas também, uma extensão do sofrimento de milhares de outras mães nas periferias brasileiras que tiveram filhos vítimas de políticas públicas de violência e despreparo.

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Felipe Sousa

Felipe é redator do Pheeno! Focado em explorar cada vez mais a comunicação em tempos de redes sociais, o carioca de 25 anos divide seu tempo entre o trabalho e a faculdade de jornalismo, sempre deixando espaço para o melhor da noite carioca!

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